terça-feira, 5 de novembro de 2024

Jesus desceu à mansão dos mortos

 

 

Creio em Deus Pai, todo-poderoso, criador do Céu e da Terra e em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor; que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu a mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus, está sentado a Direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na Vida eterna. Amém! 

 

Jesus, crucificado, morto e sepultado, conheceu a morte como todos os seres humanos. Com sua alma, unida à pessoa divina, foi à morada dos mortos, como Salvador, para proclamar o Evangelho e anunciar a Boa Nova aos espíritos ali aprisionados. 

No seio de Abraão, se encontravam os que estavam privados da visão de Deus. Todos os mortos, bons ou maus, esperavam o Redentor, que, no entanto, libertaria e abriria as portas do céu somente os justos que o haviam precedido. 

No Sábado Santo a Igreja permanece em silêncio junto ao túmulo, aguardando a ressurreição do Senhor. 

O artigo “desceu à mansão dos mortos” está fundamentado nas afirmações do Novo Testamento (At 2,31; Rm 10,6-7; Ef 4,8-10). Quer significar que a morte de Cristo foi real. Durante três dias, entre o momento em que “espirou” (Mc 15,37) e a ressurreição, o Salvador experimentou o “estado de morte”, por meio da separação da alma e do corpo. 

A alma de Jesus, Verbo feito carne, separada do corpo, foi glorificada em Deus, enquanto o corpo, apenas por um dia, permaneceu no sepulcro, no estado de cadáver.

Na Carta aos Hebreus foi descrita a obra de libertação dos justos por este evento da descida à mansão dos mortos: “Como os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição, para destruir, com a sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo. Assim libertou os que, por medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão” (2:14-15).

Na Primeira Carta de São Pedro lemos: “Pois também aos mortos foi anunciado o Evangelho, para que, mesmo julgados à maneira humana na carne, eles pudessem viver segundo Deus no Espírito” (4,6).

Pela doutrina católica, a “descida aos infernos” constitui a última fase da missão messiânica, pois a Palavra do Evangelho, assim como a graça justificadora de Jesus, alcançou a todos, inclusive as gerações que viveram antes do sacrifício de Cristo na Cruz, como Adão, Eva, Abel, Melquisedeque, Abraão, Isaac, Jacob, Moisés, Noé, David, Salomão, Isaías, Jeremias, Zacarias, os patriarcas e os profetas. 

O período da graça, perdido com o pecado original de Adão e Eva, somente foi reinaugurado com a Cruz de Cristo. Antes da Redenção, com a morte e ressurreição de Jesus, as portas do paraíso estavam fechadas, desde a expulsão deles. Rompida a amizade com o homem que, tentado pelo diabo, deixou morrer a confiança em seu Criador, abusou da liberdade e desobedeceu ao mandamento divino, Deus colocou dois Arcanjos diante das portas do céu para que ninguém pudesse voltar. 

As almas das pessoas justas que, no Antigo Testamento, tinham morrido, aguardavam por esta "inauguração do céu". No Fim dos Tempos, as almas dos justos serão também unidas aos seus corpos ressuscitados, na ressurreição final. Então as pessoas salvas e justificadas, em estado de graça, entrarão na glória de Deus, de corpo e alma, configurando plenamente ao Cristo ressuscitado.  

Ao morrerem, eles não poderiam estar diante do Pai porque, além de carregarem a mancha do pecado original, não tinham recebido a graça e o perdão dos pecados pessoais e, portanto, não estavam unidos a Deus, de forma sobrenatural.  

Todavia, estas pessoas boas não poderiam ser punidas com a pena dos sentidos (queimarem no fogo do inferno) porque viviam a justiça, ainda que de forma natural. Como não estavam perdoados de seus pecados, não podiam escapar da pena de dano (ausência de Deus), aplicada no círculo exterior do inferno.

Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus (doutrina formalizada no Concílio de Calcedônia, em 451, d.C.), tal como professado na profissão de fé de São Cirilo, ali desceu, já morto, para declarar a sua vitória sobre o demônio, para mostrar o seu poder e pegar, pelas mãos, aquelas pessoas boas e justas e levá-las para o céu. O Salvador ressuscitou todos eles. São Paulo, na sua Carta aos Filipenses 2:10-11, disse que ao nome de Jesus, todo o joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra e toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (.

Confira esta bela e antiga homilia para o Sábado Santo:

 

"O que está acontecendo hoje? Um grande silêncio e uma grande solidão reinam sobre a terra. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

 

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva libertos dos sofrimentos.

 

O Senhor foi onde eles estavam, levando em suas mãos a cruz vitoriosa. Quando Adão o viu exclamou para todos os demais: O meu Senhor, está no meio de nós! E Cristo tomando Adão pela mão, disse-lhe: Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos...

 

Eu sou o teu Deus, e por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora aos que estavam na prisão da morte: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

 

Eu ordeno: Acorda, ó tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

 

Por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até sepultado; por ti tornei-me como alguém sem apoio. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, num jardim fui crucificado.

 

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida. Vê as bofetadas que levei para restaurar tua beleza corrompida. Vê as marcas dos açoites que suportei para retirar de teus ombros o peso dos teus pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à cruz, por causa de ti, pois outrora estendeste levianamente tuas mãos para a árvore do Paraíso. Adormeci na cruz, e por tua causa a lança penetrou no meu lado, assim como Eva surgiu do teu costado, quando adormecestes no Paraíso. Meu lado curou a dor do teu costado; meu sono vai arrancar-te do sono da morte. E minha lança deteve a que estava dirigida contra ti.

 

Levanta-te, vamo-nos daqui. O inimigo te expulsou do Paraíso; eu, porém, agora te coloco num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem, e ordeno que eles te cuidem como Deus, embora não o sejas.

 

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o Reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade. Vem!"  

Entre a morte e a ressurreição, Jesus desceu ao Limbo dos Patriarcas para libertar os justos, abrir o céu, dar-lhes a beatitude, a bem aventurança e confirmar o seu poder divino.  

No dia anterior à Ressurreição, Cristo foi à mansão dos mortos, livre e vitorioso, sem perder sua divindade, para cumprir o que estava escrito nas Escrituras: o Messias libertaria os cativos e abriria o caminho para a salvação ...

O Filho de Deus libertou as almas dos justos, que ali aguardavam a Redenção. Demonstrou a vitória sobre o pecado e a morte, completando, assim, a obra de salvação iniciada com sua crucificação e morte. Em outra derrota para o demônio, houve a manifestação do poder soberano de Cristo sobre o mundo espiritual, mostrando que Ele tem autoridade sobre o inferno e a morte. 

A descida à morada dos mortos preparou o caminho para a ressurreição de Jesus Cristo, que ocorreu no Domingo de Páscoa, inaugurando, assim, uma nova era de vida e esperança para todos os que creem Nele.

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

O sacramento da Eucaristia

 


Na noite em que ia ser entregue, celebrando com os apóstolos a última Ceia, o Bom Jesus “tomou o pão, deu graças, partiu-o e lhes deu, dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós'” (Lc 22,19). Também “pegou o cálice, deu graças, passou-o a eles, e todos beberam. E disse-lhes: ‘Este é o meu sangue da nova Aliança, que é derramado por muitos’.” (Mc 14,23-24). 


A fé católica nos ensina que a Eucaristia – o Santíssimo Sacramento - ação de graças e louvor a Deus, é a fonte maior da vida cristã. Contém todo o bem espiritual da Igreja, o próprio Cristo, nossa Páscoa. Por ela, nos unimos à liturgia celeste e antecipamos, já na terra, a vida eterna. 

De acordo com São João Paulo II, a Igreja vive da Eucaristia, seu tesouro. Para o Concílio Vaticano II, ela é a fonte e o centro da vida cristã.

Santo Agostinho destaca a presença real de Cristo na Eucaristia.

Na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis, do papa emérito Bento XVI, lemos que a Eucaristia, Sacramento da Caridade, é a doação que Jesus Cristo faz de Si mesmo, revelando-nos o amor infinito de Deus por cada homem. No sacramento do altar, o Senhor vem ao encontro do homem, criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 27), fazendo-Se seu companheiro de viagem. Neste sacramento, Jesus torna-Se alimento para o homem, faminto de verdade e de liberdade. Uma vez que só a verdade nos pode tornar verdadeiramente livres (Jo 8, 36), Cristo faz-Se alimento de Verdade para nós. A Eucaristia é, por excelência, mistério da fé.  

Antes, na Antiga Aliança (Êxodo 16), o pão e o vinho já eram oferecidos em sacrifício em louvor à divindade. No contexto do Êxodo, os pães ázimos recordavam a partida libertadora dos judeus do Egito. O maná, no deserto, caia do céu, como o pão e alimento físico  e espiritual para o povo de Israel. Agora, o Pão da Vida, descido do céu, na Eucaristia, alimenta espiritualmente o fiel.

"Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós" (Jo, 6,53)

O sacramento da Eucaristia, dada a sua relevância, é chamado santíssimo porque nos dá o próprio autor da graça, Cristo.

Os sacramentos, comunicados pela Igreja, são visíveis, sinais da graça, que é invisível. Consistem nos canais pelos quais a graça, conquistada por Jesus, na Cruz, nos é dada. Agem por si só, ex opere operato, mas só possuem eficácia quando temos fé. A graça, sacramento dos vivos, fica ligada ao fiel.

A matéria e os sinais essenciais do sacramento são o pão, feito de trigo, e o vinho, de uva, sobre os quais é invocada a bênção do Espírito Santo. A forma consiste nas palavras que próprio Cristo utilizou na Última Ceia: isto é o Meu Corpo; isto é o Meu Sangue.

Não se trata de um mero símbolo. No altar, quando o sacerdote, o próprio Jesus, pronuncia as palavras Isto é o Meu Corpo, isto é o Meu Sangue, pela invocação do Espírito Santo, ocorre o milagre da transubstanciação: mudam-se as substâncias do pão e do vinho consagrados, que se convertem no verdadeiro Corpo e no Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, ressurreto e vivo, ainda que os seus acidentes (a aparência, a textura, o gosto e o cheiro são de pão e de vinho) continuem os mesmos.

Bem aventurados os que creem sem terem visto!

“O nosso Salvador instituiu na última ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até ele voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição” (Sacrosanctum Concilium, n. 47)

Santo Tomás de Aquino ensina que não se pode descobrir a presença do verdadeiro Corpo de Cristo e do verdadeiro Sangue de Cristo, neste sacramento, pelos sentidos, mas só pela fé, baseada na autoridade de Deus.

Cristo instituiu este sacramento para que pudéssemos nos alimentar espiritualmente Dele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Com a graça do Espírito Santo, participarmos da comunhão com Deus. Cristo, que nos deu a graça, entra em nós, em uma união íntima e sagrada do corpo, sangue, alma e divindade do Salvador.

"Não perguntes se é ou não verdade; aceita com fé as palavras do Senhor, porque Ele, que é a Verdade, não mente" (São Cirilo).

Ele é o Pão da Vida descido do céu.

Pelo sacrifício, único e suficiente, de Cristo é que nos chega a graça. O autor da graça é o próprio Cristo, presente na Eucaristia.

Na missa, o sacerdote, elevado à esta condição pelo sacramento da Ordem, é aquele que oferece o sacrifício, in personae Christi. Cristo age a partir e através do sacerdote. No sacrifício da missa, como foi no calvário, Jesus é a vítima e também o (sumo) sacerdote da Nova Aliança. Ele próprio, de forma invisível, representado pelo bispo ou presbítero, quem preside toda a celebração eucarística.

Felizes os convidados para a ceia do Senhor. A festa das núpcias, a ceia definitiva entre os homens e Deus, será celebrada, em sua plenitude, somente no Fim dos Tempos (“... até que Ele venha”). Mas na missa, a festa redentora é antecipada na Eucaristia. 

A Eucaristia, que faz continuar a Última Ceia, se traduz na antecipação do sacrifício na Cruz e possui algo de escatológico porque nos faz lembrar dos Últimos Tempos. É a Ceia do Senhor, porque antecipa, aqui, a ceia das Bodas do Cordeiro, na Jerusalém celeste.

Santo Tomás de Aquino afirmou que:

“Nenhum outro sacramento é mais salutar do que a eucaristia. Pois, nele os pecados são destruídos, crescem as virtudes e a alma é plenamente saciada de todos os dons espirituais. A Eucaristia é o memorial perene da paixão de Cristo, o cumprimento perfeito das figuras da antiga aliança e o maior de todos os milagres que Cristo realizou” que a Eucaristia constitui o maior milagre realizado por Jesus neste mundo.”

A Eucaristia alimenta, restaura e nutre a alma dos homens, aproximando-os da união com Deus. Nos unimos ao Corpo de Cristo em nosso próprio corpo; recebemos a graça transformadora da presença de Nosso Senhor.

Se o Batismo inaugura a vida da graça, os sacramentos, operados pelo Cristo, são os canais da graça, as ações eficazes de Deus.

Participar plenamente da missa, como quem vai ao próprio Calvário. Para comungar, a preparação deve ser piedosa, porque iremos nos unir a Cristo. São Paulo exorta a um prévio exame de consciência (1Cor 11,27-29)

Para estarmos em estado de graça, é preciso preparamos o corpo, com a observância do jejum eucarístico de uma hora antes de comungarmos, e da alma, através da fé de que na Eucaristia está o corpo, sangue, alma e divindade de Cristo. Somente assim estaremos em perfeita unidade com Cristo.

Em João 6:51-58, Jesus disse que quem não comer da minha carne e beber do meu sangue não terá parte comigo.

Eucaristia e a cruz são o mesmo mistério. O sacramento é celebrado ao ser feito o sacrifício. O sacrifício é feito ao ser celebrado o sacramento. A eucaristia - que conserva, aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo - só é sacramento por ser sacrifício e só é sacrifício porque é sacramento.

É o sacramento por excelência. Nele está presente o próprio Cristo, o autor da graça. A comunhão - que aumenta nossa união com Cristo - é obrigatória para a perfectibilização do sacrifício.

Ele é o santíssimo sacrifício. Perpetua o sacramento e a presença real de Cristo por perpetuar nele o sacrifício.

Jesus Cristo se ofereceu, por amor e misericórdia, como um sacrifício perfeito e suficiente para a remissão dos nossos pecados. A eucaristia é a renovação deste sacrifício; é a cruz tornada presente, de forma incruenta.

Na Eucaristia estão presentes, aqui na terra, o mesmo corpo e o mesmo sangue, a mesma alma e divindade do próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, que está no céu. O mesmo Cristo que, sob ação do Espírito Santo, se encarnou no meio de nós, nascido da Virgem Maria. O Verbo divino se fez carne e habitou entre nós

É a mesma pessoa que andou, peregrinou e ensinou pela Galileia e Judeia, sob o domínio do Império Romano, no governo de Pôncio Pilatos. É aquele que, sob as regras judaicas, foi circuncidado no oitavo dia de vida, já antecipando o derramamento de sangue por nós, 33 anos depois. É o mesmo Jesus que, por ocasião da festa da Páscoa, em Jerusalém, se perdeu dos pais e foi encontrado no Templo, aos doze anos, já ensinando. Ele chamou e escolheu seus doze Apóstolos. É aquele que sofreu as tentações no deserto e iniciou seu ministério com a realização do primeiro milagre, da transformação da água em vinho, nas Bodas de Caná. 

Foi Ele quem pregou e ensinou as bem-aventuranças; contou parábolas; realizou inúmeros milagres; paciente, anunciou o Reino de Deus; converteu Saulo de Tarso; ressuscitou Lázaro; curou cegos, coxos e endemoniados. 

Após desagradar os fariseus, mestres da lei e as autoridades da época, foi perseguido, traído e humilhado. Antevendo sua Paixão, quis ardentemente comer a páscoa com os seus Discípulos. Na Última Ceia, em sinal de humildade e serviço, lavou-lhes os pés. Anunciou o traidor e, após, instituiu o sacramento da Eucaristia, como memória de sua morte e de sua ressurreição, dando-lhes o mandamento do amor. Ordenou a seus Apóstolos que a celebrassem até a sua volta: “fazei isto em memória de mim”. Em seguida, entregou-se e deixou-se capturar. 

Sabendo, desde sempre, como seria o fim, sofreu, como humano, no Monte das Oliveiras. Em agonia, suou sangue. Pediu para que o Pai afastasse Dele aquele cálice, mas que se fizesse a Sua vontade. Nosso Senhor Jesus Cristo, sob a lei judaica, foi julgado pelo Sinédrio, chefiado por Caifás, e injustamente condenado, pelo governador romano Pôncio Pilatos. Foi crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos. Ao terceiro dia, ressuscitou. Depois de quarenta dias, elevou-se e subiu ao céu, de corpo e alma, glorioso. Está sentado à direita de Deus Pai todo poderoso, onde há de vir a julgar os vivos e os mortos.

É o mesmo Jesus encarnado, crucificado, que caminhou na terra entre nós, comeu, bebeu, chorou, sangrou e sofreu.

“Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3, 16-17)

Quanto mais participamos da vida de Cristo; quanto mais estreitamos e progredimos em Sua amizade, mais nos afastamos do pecado e nos aproximamos da antecipação da glória celeste.

Através da nossa fé cristã, provida pela graça divina, temos a oportunidade de entrarmos em comunhão com o próprio Deus, através da Eucaristia, memorial sacrifical de Cristo e de seu corpo, onde se faz presente, vivo e ressurreto, o próprio Filho do Homem, Jesus Cristo, o leão da tribo de Judá e descendente de Davi. 

                                                                        No amor e na paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!

sábado, 28 de setembro de 2024

A Última Ceia

 A Última Ceia



Quando chegou a hora, Jesus e os seus apóstolos reclinaram-se à mesa. E disse-lhes: "Desejei ansiosamente comer esta Páscoa com vocês antes de sofrer. Pois eu lhes digo: Não comerei dela novamente até que se cumpra no Reino de Deus". Recebendo um cálice, ele deu graças e disse: "Tomem isto e partilhem uns com os outros. Pois eu lhes digo que não beberei outra vez do fruto da videira até que venha o Reino de Deus". Tomando o pão, deu graças, partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: "Isto é o meu corpo dado em favor de vocês; façam isto em memória de mim". Da mesma forma, depois da ceia, tomou o cálice, dizendo: "Este cálice é a nova aliança no meu sangue, derramado em favor de vocês. (Lucas, 22:14-20) 

A Última Ceia foi a antecipação do sacrifício da Cruz.

Nosso Senhor Jesus Cristo, em seu misericordioso projeto de Salvação dos homens, se encarnou no meio de nós, retrocedeu a eternidade e fez-se jovem, para morrer. Sendo inteiramente Deus e inteiramente homem, Ele nunca falou de Sua morte sem mencionar, em seguida, a Ressurreição.

Era necessário que houvesse um Memorial de Sua Paixão. E assim o fez para não deixar à memória vacilante dos homens. Foi por Ele instituído para lembrar a Sua morte e também porque voltaria a viver, glorioso, de corpo e alma, depois da Ressurreição.

Aquela ceia teve um caráter de despedida. Chegava o momento mais solene da vida do Ungido. Era a Sua hora. Reunido com seus Apóstolos, disse: - Na verdade vos digo que não tornarei a beber deste fruto da videira até que venha o reino de Deus.

Jesus, que veio realizar um batismo de sangue, queria, ardentemente, comer a páscoa com seus discípulos. O novo e eterno pacto entre Deus e o homem seria instituído naquela ocasião.

Iniciava, ali, um novo período, diferente da antiga Aliança de Deus. Antes, o pacto era concluído com sacrifícios de sangue de animais. A primeira aliança, com Israel, por intermédio de Moisés, foi prometida a libertação dos hebreus, o povo escolhido, da escravidão do Egito. Depois, através de Abraão, com o direito a progenitura e, mais tarde, de Davi, com a promessa do reinado.

Na véspera de Sua Paixão, durante a Páscoa, o Filho de Deus mediou um Novo Testamento, com o próprio sangue, derramado na Cruz. O verdadeiro Cordeiro Pascal que tira o pecado do mundo.

Antevendo a Sua hora, Jesus reuniu os doze Apóstolos que com ele caminhava há três anos, o início de sua vida pública. Em um ato sublime, interpretou o significado de Sua morte e declarou o início da Nova Aliança, que seria ratificada, na tarde do dia seguinte, com Sua morte sacrificial e vicária na Cruz.

O sacrifício do Cordeiro imolado era necessário para que houvesse a nossa perfeita comunhão com Deus. 

Durante a ceia, sabendo de seu destino como homem, deitou água em uma bacia e começou, como sinal de deferência e serviço, a lavar os pés dos discípulos, como prelúdio da paixão, e a secá-los com a toalha com que se cingira. Este gesto não reflete apenas a humildade, mas sim o ato salvador que Jesus fará para dar a vida ao mundo. O lava pés remete à Cruz. Os discípulos deveriam olhar também para o Calvário e imitar o gesto de amor de Nosso Senhor.

Onisciente, Jesus, o próprio Deus encarnado, sabia, desde sempre, que seria traído. Naquele momento, o traidor constituía uma das maiores preocupações do Mestre. Sempre foi dono e senhor dos acontecimentos. Tudo era feito e conduzido segundo a Sua vontade.

Trata-se de um dos episódios mais dramáticos do Evangelho. O sombrio contraste entre a ação de Nova Aliança e a ação do traidor à mesma mesa. Judas Iscariotes, descoberto e desmascarado, impelido por uma potência diabólica, saiu daquele Cenáculo. Mais tarde trocaria a informação privilegiada por 30 moedas de prata. A consumação da traição e a saída de Judas coincidem com a noite. Posteriormente, incrédulo e orgulhoso, sem arrependimento, pendurou-se em uma árvore para dar cabo à própria vida.

No momento solene daquela ceia, Jesus institui a Eucaristia. O novo mandamento do Amor estava consagrado. Toma o pão e, depois de o abençoar, parte-o e, com piedade, pronuncia as palavras de esperança sublime, as que traziam para sempre a este mundo de tristeza o banquete gozoso do Paraíso: Tomai e comei, isto é o meu corpo, que é dado por vós. Após todos comerem o pão abençoado, faz a mesma coisa com o cálice: Bebei todos deste cálice, pois este é o meu sangue, o sangue da Nova Aliança, que será derramado por muitos em remissão dos pecados.

A eucaristia dos cristãos pode ser entendida como a nova Páscoa. A morte e a ressurreição salvíficas de Jesus eram a perfeita forma de Deus para libertar a humanidade.

Os atos e palavras de Jesus antecipam e interpretam sua morte próxima. O que acontece com o pão, acontecerá ao corpo e o que acontece à taça de vinho acontecerá ao Seu sangue. Então, participar do pão e do vinho significa participar da morte de Jesus.

Estava desfeita a lei dos símbolos, holocaustos e dos sacrifícios de animais, para começar o tempo das realidades. Jesus acabava de instituir o sacrifício da nova e eterna Aliança. A Antiga Aliança foi redimensionada. Ele mesmo seria o sacrifício perfeito e suficiente, o Cordeiro imolado pelos nossos pecados.

Não havia mais dúvida: Cristo se revelou como o Filho de Deus, o Filho do Homem, o Cordeiro de Deus, o Pão da Vida. Com Sua morte, instituiu o sacramento da Eucaristia. Comendo o Seu sacratíssimo corpo e bebendo o Seu preciosíssimo Sangue, teremos a vida eterna.

Tudo o que Jesus preparou durante a sua vida, com palavras, atos, parábolas, explicações, usando símbolos e sinais do Antigo Testamento, todo o mistério foi finalmente revelado na Última Ceia, quando ele estabeleceu o rito da Nova Aliança e consumou a Sua missão messiânica neste mundo. Toda a vida de Jesus se orienta para esta hora final, o ponto culminante do Seu mistério.

O significado deste gesto de amor sublime é impensável. Transbordando de amor e misericórdia, a Paixão na Cruz seria pouco para Ele. Quis dar-se a cada um de nós de um modo permanente. Quis converter-se em alimento real da humanidade esfomeada. Deixava, assim, pela soberana vontade de Deus, um sacrifício perene e de valor infinito, um banquete em que o amor se entregava de uma maneira substancial. Escolheu ficar no mundo para alimento das almas sedentas.

A morte iminente, foi posta diante dos Apóstolos de forma simbólica e incruenta. Na Cruz, morreu pela separação do corpo e do sangue. Por isso, o pão e o vinho são consagrados separadamente, para anunciar a morte. Eucaristia, o Santíssimo sacramento e sacrifício, a partir da Cruz, ofertada, misericordiosamente, pelo próprio Autor da graça. O sacramento é celebrado ao ser feito o sacrifício. A comunhão é obrigatória para a perfectibilização do sacrifício.

Sublime o mandamento divino para prolongar e perpetuar o Memorial de Sua morte: Fazei isto em memória de mim (São Lucas 22,19). Significa renovai, por todos os séculos, até o fim dos tempos, o sacrifício oferecido pelos pecados do mundo.

Após a dupla consagração, Cristo deu aos Apóstolos, que irão transmiti-lo a todas as gerações como fonte de vida, de graça e de perdão, o poder e a ordem para fazer o que Ele tinha feito.

O Memorial, instituído pelo próprio Cristo, cabeça santa da Igreja, que não poderia ser vencido pela morte, deveria rememorar a todos os cristãos, até a consumação dos séculos, a Sua morte redentora na Cruz. A ordem foi para relembrar e anunciar Sua morte até que voltasse! Os discípulos deveriam anunciar, no futuro e para sempre, o Memorial da Paixão, morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Quando a Igreja repetisse o Memorial, Cristo, que, sob ação do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria e padeceu sob Pôncio Pilatos, estaria glorificado nos céus.

Na Quinta-Feira Santa, o Salvador apresentou aos Apóstolos o sacrifício sob as espécies de pão e do vinho.

Na missa, há uma aplicação, em um novo momento no tempo e uma nova presença no espaço, do único sacrifício de Cristo, agora, glorificado. Em obediência a Seu mandamento, os discípulos estariam representando, de forma não sangrenta, aquilo que Ele apresentou ao Pai no sacrifício de sangue do Calvário.

Todo amor almeja unidade e essa unidade, na ordem divina é a junção da alma e Cristo na comunhão.

Quando renovamos o Memorial e comemos e bebemos o Corpo e o Sangue, o fazemos a partir de um Cristo glorificado e ressuscitado, que continuamente intercede por nós, pecadores e miseráveis.

A salvação da Cruz é assim atualizada ao longo do tempo pelo Cristo celestial. Comer e beber a hóstia consagrada equivale a Jesus fazer à alma do homem o que a comida e a bebida fazem ao corpo.

Na Última Ceia Jesus deu aos Apóstolos algo que, ao morrer, ninguém mais poderia oferecer: a Si mesmo, a fim de consagrar a divina obra da Redenção. Não se trata, porém, de um fim trágico de um homem ou de uma simples recordação que não volta mais, mas sim da verdadeira salvação da humanidade.

Jesus queria que o mesmo drama do Calvário fosse encenado não apenas uma vez, mas por todos os tempos. Os homens não seriam apenas leitores da Obra de Redenção, mas parte e atores dela, oferecendo seu corpo e seu sangue junto com o de Cristo na reencenação do Calvário.

O cristão oferece ao Crucificado também o seu corpo, o seu sangue, as suas angústias e misérias a fim de que, morrendo para a natureza inferior, possamos viver para a graça divina. Ressuscitados espiritualmente, pudéssemos participar de Sua glória eterna.

O Pão Vivo que, comido sempre, nunca diminui, há de saciar a fome dos homens até o dia em que possam estar com o Pai, face a face. Não é só uma recordação, mas uma presença real.

A liturgia que a Igreja celebra é exatamente a ordem de renovação incruenta do santo sacrifício do altar. Jesus não morre em todas as missas. Ele morreu uma única vez, que foi suficiente para a remissão de todos os pecados. O efeito espiritual desta morte perpetua-se por toda a eternidade, até o fim dos tempos. A ceia de Jesus com os discípulos antecipa o banquete celeste do cordeiro, descrito no livro do Apocalipse.

O homem, sozinho, pecador, miserável e pequeno, não conseguiria apagar os seus próprios pecados. Era incapaz de se redimir e restabelecer a amizade com Deus pai, perdida com o pecado original. Foi necessário que o Cordeiro fosse imolado, com todos os profundos sofrimentos, para nos garantir a vida eterna.

Mal o sacerdote pronuncia as palavras da Última Ceia - isto é o meu corpo - o pão já não é pão. Pelo mistério da transubstanciação, converteu-se na carne de Cristo.

Fazei isto em memória de mim! Estas palavras conferiram a sua eficácia sobrenatural e divina a todas as missas que se haviam de celebrar no mundo, até o fim dos séculos.

Apesar do discurso de despedida, Jesus conforta os discípulos abatidos com a promessa do Consolador, que confirmará e fortalecerá a fé daqueles que serão perseguidos e martirizados. Pede que recordem a instrução recebida para a missão de pregar.

Através da Oração Sacerdotal, pronunciada no Cenáculo, traduz-se na oração eterna do Senhor glorificado. Na hora suprema da cruz, Jesus compre perfeitamente a obra do Pai, que foi revelado em Sua própria presença.

Somente com a força da Ressurreição, os efeitos espirituais da eucaristia e a vinda do Espírito Santo paráclito é que os Apóstolos tiveram firmeza, valentia e coragem para anunciar o Evangelho em todos os lugares, até os confins do mundo, batizando e anunciando o Reino de Deus.

                                                                                                  No amor e na paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!


sexta-feira, 26 de julho de 2024

Credo de Santo Atanásio

Credo de Santo Atanásio


1. Quem quiser salvar-se deve antes de tudo professar a fé católica.

2. Porque aquele que não a professar, integral e inviolavelmente, perecerá sem dúvida por toda a 
eternidade.

3. A fé católica consiste em adorar um só Deus em três Pessoas e três Pessoas em um só Deus.

4. Sem confundir as Pessoas nem separar a substância.

5. Porque uma só é a Pessoa do Pai, outra a do Filho, outra a do Espírito Santo.

6. Mas uma só é a divindade do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, igual a glória, coeterna a majestade.

7. Tal como é o Pai, tal é o Filho, tal é o Espírito Santo.

8. O Pai é incriado, o Filho é incriado, o Espírito Santo é incriado.

9. O Pai é imenso, o Filho é imenso, o Espírito Santo é imenso.

10. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é eterno.

11. E contudo não são três eternos, mas um só eterno.

12. Assim como não são três incriados, nem três imensos, mas um só incriado e um só imenso.

13. Da mesma maneira, o Pai é onipotente, o Filho é onipotente, o Espírito Santo é onipotente.

14. E contudo não são três onipotentes, mas um só onipotente.

15. Assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus.

16. E contudo não são três deuses, mas um só Deus.

17. Do mesmo modo, o Pai é Senhor, o Filho é Senhor, o Espírito Santo é Senhor.

18. E contudo não são três senhores, mas um só Senhor.

19. Porque, assim como a verdade cristã nos manda confessar que cada uma das Pessoas é Deus e Senhor, do mesmo modo a religião católica nos proíbe dizer que são três deuses ou senhores.

20. O Pai não foi feito, nem gerado, nem criado por ninguém.

21. O Filho procede do Pai; não foi feito, nem criado, mas gerado.

22. O Espírito Santo não foi feito, nem criado, nem gerado, mas procede do Pai e do Filho.

23. Não há, pois, senão um só Pai, e não três Pais; um só Filho, e não três Filhos; um só Espírito Santo, 
e não três Espíritos Santos.

24. E nesta Trindade não há nem mais antigo nem menos antigo, nem maior nem menor, mas as três  Pessoas são coeternas e iguais entre si.

25. De sorte que, como se disse acima, em tudo se deve adorar a unidade na Trindade e a Trindade na 
unidade.

26. Quem, pois, quiser salvar-se, deve pensar assim a respeito da Trindade.

27. Mas, para alcançar a salvação, é necessário ainda crer firmemente na Encarnação de Nosso Senhor 
Jesus Cristo.

28. A pureza da nossa fé consiste, pois, em crer ainda e confessar que Nosso Senhor Jesus Cristo, Filho 
de Deus, é Deus e homem.

29. É Deus, gerado na substância do Pai desde toda a eternidade; é homem porque nasceu, no tempo, da 
substância da sua Mãe.

30. Deus perfeito e homem perfeito, com alma racional e carne humana.

31. Igual ao Pai segundo a divindade; menor que o Pai segundo a humanidade.

32. E embora seja Deus e homem, contudo não são dois, mas um só Cristo.

33. É um, não porque a divindade se tenha convertido em humanidade, mas porque Deus assumiu a 
humanidade.

34. Um, finalmente, não por confusão de substâncias, mas pela unidade da Pessoa.

35. Porque, assim como a alma racional e o corpo formam um só homem, assim também a divindade e a humanidade formam um só Cristo.

36. Ele sofreu a morte por nossa salvação, desceu aos infernos e ao terceiro dia ressuscitou dos mortos.

37. Subiu aos Céus e está sentado a direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.

38. E quando vier, todos os homens ressuscitarão com os seus corpos, para prestar conta dos seus atos.

39. E os que tiverem praticado o bem irão para a vida eterna, e os maus para o fogo eterno.

40. Esta é a fé católica, e quem não a professar fiel e firmemente não se poderá salvar".

terça-feira, 9 de julho de 2024

Oração eterna de Jesus aos discípulos

Oração eterna de Jesus aos discípulos



João, 17

17 Jesus falou essas coisas e, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti, 2 assim como lhe deste poder sobre toda carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste.

 3 E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste. 4 Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. 5 E, agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. 

6 Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste; eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra. 7 Agora, já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti, 8 porque lhes dei as palavras que me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste.

9 Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. 10 E todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e nisso sou glorificado. 11 E eu já não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim como nós. 

12 Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse. 

13 Mas, agora, vou para ti e digo isto no mundo, para que tenham a minha alegria completa em si mesmos. 

14 Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo. 15 Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal. 16 Não são do mundo, como eu do mundo não sou. 

17 Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade. 18 Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao mundo. 

19 E por eles me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados na verdade. 20 Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua palavra, hão de crer em mim; 21 para que todos sejam um, como tu, ó Pai, o és em mim, e eu, em ti; que também eles sejam um em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste. 

22 E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um. 23 Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, e para que o mundo conheça que tu me enviaste a mim e que tens amado a eles como me tens amado a mim.

 24 Pai, aqueles que me deste quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me hás amado antes da criação do mundo. 25 Pai justo, o mundo não te conheceu; mas eu te conheci, e estes conheceram que tu me enviaste a mim. 

26 E eu lhes fiz conhecer o teu nome e lho farei conhecer mais, para que o amor com que me tens amado esteja neles, e eu neles esteja.

sexta-feira, 5 de julho de 2024

As tentações de Jesus no deserto


Após se encontrar e ser batizado, no rio Jordão, próximo a Betânia, por seu primo e Precursor, João, "o Batista", Nosso Senhor Jesus saiu em retiro e foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo demônio

O Batismo, quando recebeu o Espírito e a confirmação de Sua missão, consistiu na última preparação de Cristo antes de iniciar o seu ministério público. Após os céus se abrirem, foi apresentado ao mundo pelo próprio Pai, que revelou: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.

Toda decisão importante de Jesus era precedida de um proposital isolamento e oração. Desta vez, não foi diferente. Batizado, seguindo as regras dos homens, deu exemplo de humildade. 

Em seguida, Ele desaparece, tomando sobre si, desde já, o peso de todos os pecados do mundo, antevendo a grande e sofrida batalha que iria travar contra os judeus (fariseus e mestres da lei) e pagãos (romanos) para a glória de Seu Pai. Próximo a Jericó, Nosso Salvador, em preparação para a Sua obra messiânica, vivia entre os animais selvagens e os anjos o serviam.

Jesus jejuou e fez penitência por 40 dias, a exemplo de Moisés, no Sinai, e Elias, no caminho de Horeb. Dada a sua natureza humana, debilitado, após jejuar, sentiu fome. 

Exatamente neste momento de fragilidade e fraqueza, Satanás se aproveita e inicia a primeira de suas três malsucedidas investidas. Repetiu-se, de certo modo, a tentação outrora de Adão, que vingou. 

Dada a astúcia e conhecimento do tentador, a experiência psicológica que se seguiu foi sutil e, o processo, insidioso. Na realidade, o diabólico ofereceu três atalhos para se evitar a Cruz. Deus somente foi tentado porque, encarnado, assumiu a natureza humana. 

Quis, o Criador, ser semelhante aos homens em tudo, inclusive, passar pela experiência humana de resistir às tentações. Ele, assim, passou pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado.

Simulando aparente compaixão com o faminto Penitente, Satanás, na primeira vez, ainda em dúvida sobre a natureza divina do Tentado, diz: - Se és o Filho de Deus, dize a estas pedras que se convertam em pão. 

O objetivo era fazer com que Jesus se livrasse da provação da fome e realizasse um milagre somente para satisfazer suas próprias necessidades pessoais. Era como se dissesse: faça o que tiver vontade de fazer (permissividade), satisfaça imediatamente seus instintos e necessidades, mas esqueça a Cruz. 

Se Satanás tivesse certeza de que falava com o próprio Deus, não O teria tentado. Contudo, a resposta foi imediata e triunfante, quando então Jesus, mesmo diante das fragilidades inerentes à sua condição humana, demonstrou confiança na providência divina, enalteceu a Deus e confirmou a prevalência do espírito sobre a matéria: - Nem só de pão vive o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus. 

No momento da crucifixão, os homens fariam, novamente, o mesmo tipo de tentação, provocando: Se és o Filho de Deus, desce da cruz!

Então o demônio levou-O até a Cidade Santa, colocou-O sobre o pináculo do Templo e, na vã tentativa de servir-se da palavra revelada para atacar a alma, com o orgulho e egoísmo, e afastar o Enviado do Criador, disse-Lhe: Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, porque está escrito: "Ele ordenará aos seus anjos que te protejam e te tomem nas mãos para que não machuques o teu pé em alguma pedra". 

A segunda tentação traduz a ideia de que a cruz nunca venceria a humanidade, porque as pessoas se satisfazem com as maravilhas terrenas, aplaudem as surpresas mundanas e valorizam tudo o que é espetáculo e grandioso. 

Era como se o tentador insinuasse: pule desta altura, saia ileso e a multidão te seguirá. Você não precisa da Cruz. Por que ir por um caminho longo e doloroso para conquistar as pessoas se pode escolher uma via mais fácil, realizando um prodígio? 

À esta tentação, o Messias responde: "Não tentará o Senhor teu Deus". Não quis, assim, se vangloriar, já que, durante sua vida pública, faria milagres apenas por compaixão em favor dos pobres, enfermos e excluídos e para mostrar ser Filho do Homem, mas nunca para se exibir ou satisfazer a curiosidade do povo. 

O Messias, ao negar este ataque, não esqueceu ou substituiu o martírio da Cruz por uma demonstração de poder tendente a conquistar as multidões. Certa vez, durante sua peregrinação, Nosso Senhor também foi tentado quando as pessoas o cercaram, pedindo qualquer milagre para provar Seus poderes e justificar a crença: esta geração é uma geração perversa; pede um sinal

Afinal, a humanidade deveria seguir Jesus pelo sacrifício na Cruz, pelo derramamento de sangue, com amor e não pela realização inadvertida de milagres.

Por fim, Satanás, sugerindo que a teologia se equivaleria à política, leva Jesus ao cume de um monte muito alto e mostra-lhe todo o poderio e magnificência do mundo e diz: - Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares

Como se segurasse um globo de vidro do mundo nas mãos, dizia que todos os reinos eram seus eu os daria se fizesse o que pedira. Ou seja, não se preocupe com Deus e com o mistério da redenção: a única coisa que importa não é o divino, mas a ordem social e política. 

Contudo, o pai da mentira promete o que não pode dar. O Salvador repele com a profissão solene: "Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás" e acrescenta, para finalizar as tentações e impedir um novo ataque: "Desaparece da minha vista, Satanás". Depois que se retirou, Jesus, fortalecido pelas provações (“Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que O amam” (São Tiago, 1,12), não permaneceu só, já que os anjos se aproximaram e o serviam

Mais tarde, Cristo foi tentado, do mesmo modo, quando o povo quis transformá-lo rei na terra: Jesus, percebendo que queriam arrebatá-Lo e fazê-Lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte.

Percebemos que as tentações se relacionam com as próprias funções messiânicas de Jesus: a primeira pretendia arrastá-Lo para o comodismo; a segunda, para exibições milagreiras e, a terceira, uma meta política.

A essência do satânico era, basicamente, o ódio e o desprezo à Cruz de Cristo. As tentações, em verdade, eram um apelo para Nosso Senhor desconsiderar Sua missão divina e Sua obra messiânica. 

As investidas do mal tinham por objetivo desviar o Salvador de Sua obra de salvação pelo sacrifício. Para ganhar a alma dos homens, o maligno tentou apontar três caminhos alternativos: um econômico, outro pautado em maravilhas e, por fim, um político.

Lembremos, que Jesus, mais tarde, em Cesaréia de Filipe, após perguntar aos discípulos quem dizem os homens ser o Filho do Homem?, chamou Pedro de Satanás (Mateus 16:23) porque o Apóstolo, sobre cuja fé seria fundada a igreja, naquela ocasião, reconheceu a divindade do Senhor mas não admitia a Cruz. Pedro tentou Nosso Senhor da mesma forma e, por isso, foi severamente repreendido. 

Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo permitiu esses assaltos para mostrar a semelhança com os homens, que também são tentados, através da luxúria, gula, orgulho, inveja e cobiça, durante nossas fraquezas e provar que, em nossos momentos de angústia, dúvida e tribulação, devemos permanecer firmes na fé, evitar o pecado, corresponder à graça e confiar na providência de Deus. 

O aperfeiçoamento humano, segundo os planos de Deus, passa pela provação e pelo sofrimento, já que, somente após cada um carregar a sua cruz, poderá alcançar a ressurreição. 

                                                                         No amor e na paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!


segunda-feira, 1 de julho de 2024

A oração do "Angelus"

A oração do "Angelus"



Aprenda a rezar, diariamente, preferencialmente às 06h00, 12h00 e 18h00, a oração do Angelus (anjo, em latim), uma tradicional e piedosa oração que nos recorda o grande momento da Anunciação, feita pelo anjo Gabriel, à Virgem Maria que, livre do pecado original, conceberia em seu ventre, por obra do Espírito Santo, nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. 

Composta por três antífonas, retiradas do Evangelho segundo São Lucas, que falam sobre a Encarnação da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o objetivo é reforçar nossa união e comunhão com Deus. 

Pela manhã, ao raiar o sol, oferecemos ao Senhor todos os trabalhos daquele dia, como agradecimento por Sua encarnação. Ao meio dia, rogamos a Deus os meios para louvá-Lo e adorá-Lo, por intercessão da Virgem Santíssima. 

Ao fim da tarde, rezamos novamente para pedir perdão por nossos pecados e faltas que nos distanciam do Pai e, também, para agradecer os favores e a graça obtidos durante o dia. 

Oração do Angelus

℣. O Anjo do Senhor anunciou à Maria.
℟. E ela concebeu do Espírito Santo.

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois vós entre as mulheres, e bendito é o fruto do Vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte. Amém.

℣. Eis aqui a escrava do Senhor.
℟. Faça-se em mim segundo a Vossa palavra.

Reza-se a Ave-Maria.

℣. E o Verbo se fez carne.
℟. E habitou entre nós.

Reza-se a Ave-Maria.

℣. Rogai por nós, santa Mãe de Deus.
℟. Para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

℣. Oremos: Derramai, ó Deus, a Vossa graça em nossos corações, para que, conhecendo pela mensagem do Anjo a encarnação do Vosso Filho, cheguemos, por Sua Paixão e Cruz, à glória da ressurreição. Por Cristo, Nosso Senhor.
℟. Amém.

V.: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R.: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

V.: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R.: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

V.: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.
R.: Como era no princípio, agora e sempre. Amém

quarta-feira, 26 de junho de 2024

Nossa Senhora, a Mãe de Deus

A Anunciação


Desde o início da criação, o homem, orgulhoso, rompeu o vínculo do amor, desobedeceu, decaiu e se afastou de Deus. Adão e Eva representavam toda a humanidade. O pecado original foi transmitido a todas as gerações. Todos, ao nascer, já carregam este estado natural de separação de Deus.

Porém, Deus nos ama, infinitamente. De nós não desistiu. Desde o Antigo Testamento Ele mandou seus profetas dizer ao povo como seria feito os sacrifícios para a expiação de nossas faltas, a fim de diminuir esse fosso entre o Criador e a miserável criatura. Por amor ainda maior, Deus, para cumprir o seu plano salvífico, enviou o próprio Filho para encarnar, viver e morrer na terra, como o Messias, o Cordeiro de Deus, aquele que tira os pecados do mundo.


Como parte deste divino projeto, foi predestinada uma mulher, ainda adolescente, para a mais importante, relevante e sublime missão que se poderia atribuir a um ser humano: conceber em seu ventre, dar à luz e ser a mãe do próprio Deus. 


Ao longo dos séculos, o homem não aprendeu a lição. Continua desobedecendo os mandamentos divinos e pecando. O mundo antigo, assim como o atual, limitado e transitório, estava perdido, sobretudo espiritualmente, tomado pelas trevas e permeado por pecados, vícios e heresias. 


Em uma sociedade que ainda experimenta guerras, ódio, indiferença e desesperança, quando tudo falhar e falir, há uma esperança para a humanidade: Nossa Senhora sempre intercederá, junto a Seu Filho amado, por nós. 


Mas para compreender Maria, devemos, antes, acolher seu Filho, Jesus Cristo já que, quanto mais adoramos a divindade de Cristo, mais veneramos a maternidade da Virgem Santíssima. Nosso Senhor Jesus Cristo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. Maria, sempre virgem e plenamente consagrada ao Pai, gerou humanamente a pessoa divina, que já existia desde sempre e por toda eternidade. Na encarnação, Jesus nasce e se torna homem, mas sem deixar de ser Deus.


A Virgem Maria é a janela através da qual os homens conseguem ter a primeira visão da divindade sobre a terra. Do alto da Cruz, no final de Sua batalha no Calvário, Jesus, em sua infinita misericórdia, como maior prova de amor, deu-nos Sua Mãe como nossa Mãe, ao proclamar “Eis aí a sua Mãe”.


Na Anunciação, o arcanjo Gabriel, emissário de Deus, desceu do céu e foi até a pequena Nazaré. Após saudar, com respeito e admiração, a virgem mais pura que a terra jamais viu, que estava prostrada em oração, disse "Ave, cheia de graça. O Senhor é contigo" (ou, em outra tradução, "Salve, tu que és plena de graça").


Para acalmar a jovem, apanhada de surpresa com sublimes palavras, o anjo acrescentou: Não temas, Maria, visto que achaste graça diante de Deus. Após pronunciar o nome da virgem, perguntou-lhe se estava disposta a dar a Deus uma natureza humana, ao anunciar a boa-nova: “Tu conceberás no teu seio e darás à luz um filho a que porás o nome de Jesus. Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo, o Senhor Deus Lhe dará o trono de Davi, Seu Pai. Ele reinará eternamente sobre a casa de Jacó e o Seu reino jamais terá fim. (Lc, 1, 30-33).


Isaías, sete séculos antes, já anunciava que “uma Virgem conceberá e dará à luz um filho que será chamado Emmanuel”.


Na mente daquela donzela, havia um problema relevante, pois tinha se consagrado de corpo e alma a Deus. Um honrado artesão da aldeia, simples carpinteiro, acabava de pedi-la em casamento, que foi aceito pelos pais. O noivo era José, filho de Davi, homem justo, e os esponsais - longe de constituírem um obstáculo, haviam de ser um requisito indispensável para a encarnação divina - já estavam celebrados. Indagou ao emissário celestial como “isso aconteceria, já que não conhecia homem algum”.


Queria saber, no fundo, como podia ser virgem e mãe. Foi então que o Anjo explicou que aquela concepção seria obra do Espírito Santo, uma ação sobrenatural de Deus, um milagre que lhe permitiria manter o seu voto e sua virgindade, antes, durante e depois do parto de Nosso Senhor.


Maria imediatamente compreendeu seu papel no plano de Deus e, sem duvidar um instante sequer, deu seu consentimento dizendo: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra". Naquele instante foi concebido o Verbo, que se fez carne e habitou entre nós, e nós vimos a sua glória, glória que possui na qualidade de Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade”. O Filho, que a partir de então, começava a se formar e crescer dentro daquele puríssimo ventre materno, era nada menos que a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, gerada pelo Pai, desde a eternidade.


O que ocorreu, na Anunciação, foi Deus, reafirmando Seu sublime amor por nós, pedindo o livre consentimento de uma mulher para ajudá-Lo a se incorporar na humanidade. Assim como no primeiro jardim Eva, desobediente, trouxe a destruição, também no jardim de seu ventre Maria, a mais obediente de todas as criaturas, traria a redenção.


Naqueles dias, Maria foi visitar sua prima Isabel, que vivia em um vilarejo próximo a Jerusalém. Maria chegou à casa de Isabel e saudou-a. Contudo, Isabel, ao vê-la, ficou petrificada, estremecida e admirada, quando então, revelando pela primeira vez aos homens o mistério da Encarnação, disse: Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Como pude eu merecer que viesse ter comigo a mãe do meu Senhor?


João Batista, na ocasião, apenas um feto em gestação no ventre de sua mãe, estremece de gozo, salta de alegria e começa a já cumprir a sua missão de precursor; tomado pelo Espírito Santo, sente a presença Daquele que, três décadas depois, apontará para todos como o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo.


Por vontade e conveniência de Deus Todo Poderoso, Maria foi preservada de todo pecado. A Virgem Santíssima, detentora da Graça plena, é toda santa. Foi preservada, desde a concepção por Sant´Ana e São Joaquim, de todo pecado (mortal ou venial). Imaculada Conceição é a concepção de Maria, pura, não manchada. A nossa Bendita Mãe, em virtude dos méritos da redenção do Seu Filho, desde o princípio, foi também preservada da mancha do pecado original e assim permaneceu, fiel, por toda a sua vida terrena.


Jesus, o próprio Criador, não poderia ter contato com qualquer pecado enquanto estivesse no ventre de Sua mãe. Aquele sacrário, o primeiro tabernáculo do Salvador, tinha que ser totalmente puro e imaculado. Maria, então, estava completamente cheia de graça e não tinha qualquer espaço para o pecado.


Nossa Senhora é a realização de tudo o que Deus teria desejado que os homens fossem. Nas Bodas de Caná, ela disse: Fazei tudo o que Ele vos disser! Ela é o ideal que Nosso Senhor antevia, o modelo perfeito. Deus pensou e predestinou especialmente Maria, no princípio dos tempos e desde toda a eternidade. É o ideal de amor que Deus amava ainda antes de criar o mundo.


Nossa Senhora é, assim, medianeira entre os homens e Jesus, que contemplou da Cruz as duas criaturas que Lhe são mais queridas sobre a terra: João e Sua Santa Mãe.


Em 11 de fevereiro de 1858, nos Pirineus, França, na pequena aldeia de Lourdes, a Bem-Aventurada Virgem apareceu pela primeira das dezoito vezes à Santa Bernadete, quando revelou: “Eu sou a Imaculada Conceição”.


Em Fátima, Portugal, 13 de maio de 1917, Nossa Senhora apareceu trazendo consigo o Sol, vestindo-o como um traje, para nos recordar que o sol e os raios pertencem a Ela e à vida e não à morte. Naquela ocasião, os três pastorinhos, ainda crianças - Jacinta, Francisco e Lúcia - após se ajoelharem e rezarem, como de costume, o Rosário, foram testemunhas presenciais da presença, sobre a rama verde de uma azinheira, de uma “linda Senhora”, mais resplandecente que o sol, vinda do Céu.


A Igreja declarou solenemente quatro Dogmas (verdades reveladas pela Igreja, de forma solene) a respeito da Virgem Santíssima: Maternidade Divina (proclamado pelo Concílio de Éfeso, no ano de 431); Imaculada Conceição (definido pelo papa Pio IX, em 1854); Virgindade Perpétua (Concílio de Trento no ano de 1555); Assunção de Nossa Senhora (proclamado em 1º novembro de 1950, pelo papa Pio XII, na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus).


Maria é a mãe do Filho de Deus humanado, do próprio Deus encarnado. Segundo Lucas (1:43), aquele que Ela concebeu como Homem, por obra do Espírito Santo, e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne, não é outro senão o Filho eterno do Pai, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Nossa Senhora, com o seu Sim, colaborou e correspondeu com o desígnio divino da salvação ao gerar, em seu santíssimo ventre, o homem que era plenamente homem e inteiramente Deus.


Por um privilégio singular e especialíssimo concedido por Deus, a Bem-Aventurada Virgem Maria venceu o pecado e, por sua Imaculada Conceição, não estava sujeita à lei natural da corrupção corporal no sepulcro. Não foi preciso que ela esperasse até o fim dos tempos para obter a ressurreição de seu corpo.


A Imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial. 



Salve, Rainha, 

mãe de misericórdia, 

vida, doçura, esperança nossa, salve! 

A Vós bradamos, 

os degredados filhos de Eva. 

A Vós suspiramos, gemendo e chorando 

neste vale de lágrimas. 

Eia, pois, advogada nossa, 

esses Vossos olhos misericordiosos 

a nós volvei. 

E, depois deste desterro, 

nos mostrai Jesus, bendito fruto 

do Vosso ventre. 

Ó clemente, ó piedosa, 

ó doce Virgem Maria. 

Rogai por nós, Santa Mãe de Deus, 

para que sejamos dignos das promessas de Cristo.


No amor e na paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!