Creio em Deus Pai, todo-poderoso, criador do Céu e da Terra e em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor; que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu a mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus, está sentado a Direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na Vida eterna. Amém!
Jesus, crucificado, morto e sepultado, conheceu a morte como todos os seres humanos. Com sua alma, unida à pessoa divina, foi à morada dos mortos, como Salvador, para proclamar o Evangelho e anunciar a Boa Nova aos espíritos ali aprisionados.
No seio de Abraão, se encontravam os que estavam privados da visão de Deus. Todos os mortos, bons ou maus, esperavam o Redentor, que, no entanto, libertaria e abriria as portas do céu somente os justos que o haviam precedido.
No Sábado Santo a Igreja
permanece em silêncio junto ao túmulo, aguardando a ressurreição do Senhor.
O artigo “desceu à mansão dos mortos” está fundamentado nas afirmações do Novo Testamento (At 2,31; Rm 10,6-7; Ef 4,8-10). Quer significar que a morte de Cristo foi real. Durante três dias, entre o momento em que “espirou” (Mc 15,37) e a ressurreição, o Salvador experimentou o “estado de morte”, por meio da separação da alma e do corpo.
A
alma de Jesus, Verbo feito carne, separada do corpo, foi glorificada em Deus, enquanto o
corpo, apenas por um dia, permaneceu no sepulcro, no estado de cadáver.
Na Carta aos Hebreus foi descrita a obra de libertação dos justos por este evento da descida à mansão
dos mortos: “Como os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Jesus
participou da mesma condição, para destruir, com a sua morte, aquele que tinha
o poder da morte, isto é, o diabo. Assim libertou os que, por medo da morte,
estavam a vida toda sujeitos à escravidão” (2:14-15).
Na Primeira Carta de São Pedro
lemos: “Pois também aos mortos foi anunciado o Evangelho, para que, mesmo
julgados à maneira humana na carne, eles pudessem viver segundo Deus no
Espírito” (4,6).
Pela doutrina católica, a “descida aos infernos” constitui a última fase da missão messiânica, pois a Palavra do Evangelho, assim como a graça justificadora de Jesus, alcançou a todos, inclusive as gerações que viveram antes do sacrifício de Cristo na Cruz, como Adão, Eva, Abel, Melquisedeque, Abraão, Isaac, Jacob, Moisés, Noé, David, Salomão, Isaías, Jeremias, Zacarias, os patriarcas e os profetas.
O período da graça, perdido com o pecado original de Adão e Eva, somente foi reinaugurado com a Cruz de Cristo. Antes da Redenção, com a morte e ressurreição de Jesus, as portas do paraíso estavam fechadas, desde a expulsão deles. Rompida a amizade com o homem que, tentado pelo diabo, deixou morrer a confiança em seu Criador, abusou da liberdade e desobedeceu ao mandamento divino, Deus colocou dois Arcanjos diante das portas do céu para que ninguém pudesse voltar.
As almas das pessoas justas que, no Antigo Testamento, tinham morrido, aguardavam por esta "inauguração do céu". No Fim dos Tempos, as almas dos justos serão também unidas aos seus corpos ressuscitados, na ressurreição final. Então as pessoas salvas e justificadas, em estado de graça, entrarão na glória de Deus, de corpo e alma, configurando plenamente ao Cristo ressuscitado.
Ao morrerem, eles não poderiam estar diante do Pai porque, além de carregarem a mancha do pecado original, não tinham recebido a graça e o perdão dos pecados pessoais e, portanto, não estavam unidos a Deus, de forma sobrenatural.
Todavia, estas pessoas boas não poderiam ser punidas com a pena dos sentidos (queimarem no fogo do inferno) porque viviam a justiça, ainda que de forma natural. Como não estavam perdoados de seus pecados, não podiam escapar da pena de dano (ausência de Deus), aplicada no círculo exterior do inferno.
Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus (doutrina formalizada no Concílio de Calcedônia, em 451, d.C.), tal como professado na profissão de fé de São Cirilo, ali desceu, já morto, para declarar a sua vitória sobre o demônio, para mostrar o seu poder e pegar, pelas mãos, aquelas pessoas boas e justas e levá-las para o céu. O Salvador ressuscitou todos eles. São Paulo, na sua Carta aos Filipenses 2:10-11, disse que ao nome de Jesus, todo o joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra e toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (.
Confira esta bela e antiga homilia para o Sábado Santo:
"O que está acontecendo hoje? Um grande silêncio e uma grande solidão
reinam sobre a terra. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a
terra estremeceu e ficou silenciosa, porque Deus feito homem adormeceu e acordou os
que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.
Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha
perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra
da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva libertos dos
sofrimentos.
O Senhor foi onde eles estavam, levando em suas mãos a cruz vitoriosa.
Quando Adão o viu exclamou para todos os demais: O meu Senhor, está no meio de
nós! E Cristo tomando Adão pela mão, disse-lhe: Acorda, tu que dormes,
levanta-te dentre os mortos...
Eu sou o teu Deus, e por tua causa me tornei teu filho; por ti e por
aqueles que nasceram de ti, agora aos que estavam na prisão da morte: ‘Saí!’; e
aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos:
‘Levantai-vos!’
Eu ordeno: Acorda, ó tu que dormes, porque não te criei para
permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida.
Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste
criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti,
somos uma só e indivisível pessoa.
Por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que
habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até sepultado; por ti
tornei-me como alguém sem apoio. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, num
jardim fui crucificado.
Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro
da vida. Vê as bofetadas que levei para restaurar tua beleza corrompida. Vê as
marcas dos açoites que suportei para retirar de teus ombros o peso dos teus
pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à cruz, por causa de ti, pois
outrora estendeste levianamente tuas mãos para a árvore do Paraíso. Adormeci na
cruz, e por tua causa a lança penetrou no meu lado, assim como Eva surgiu do
teu costado, quando adormecestes no Paraíso. Meu lado curou a dor do teu
costado; meu sono vai arrancar-te do sono da morte. E minha lança deteve a que
estava dirigida contra ti.
Levanta-te, vamo-nos daqui. O inimigo te expulsou do Paraíso; eu, porém,
agora te coloco num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore da vida; eu,
porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como
servos, te guardassem, e ordeno que eles te cuidem como Deus, embora não o
sejas.
Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o Reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade. Vem!"
Entre a morte e a ressurreição, Jesus desceu ao Limbo dos Patriarcas para libertar os justos, abrir o céu, dar-lhes a beatitude, a bem aventurança e confirmar o seu poder divino.
No dia anterior à Ressurreição, Cristo foi à mansão dos mortos, livre e vitorioso, sem perder sua divindade, para cumprir o que estava escrito nas Escrituras: o Messias libertaria os cativos e abriria o caminho para a salvação ...
O Filho de Deus libertou as almas dos justos, que ali aguardavam a Redenção. Demonstrou a vitória sobre o pecado e a morte, completando, assim, a obra de salvação iniciada com sua crucificação e morte. Em outra derrota para o demônio, houve a manifestação do poder soberano de Cristo sobre o mundo espiritual, mostrando que Ele tem autoridade sobre o inferno e a morte.
A descida à morada dos mortos preparou o caminho para a ressurreição de Jesus Cristo, que ocorreu no Domingo de Páscoa, inaugurando, assim, uma nova era de vida e esperança para todos os que creem Nele.