Na noite em que ia ser entregue, celebrando com os apóstolos a última Ceia, o Bom Jesus “tomou o pão, deu graças, partiu-o e lhes deu, dizendo: ‘Isto é o meu corpo, que é dado por vós'” (Lc 22,19). Também “pegou o cálice, deu graças, passou-o a eles, e todos beberam. E disse-lhes: ‘Este é o meu sangue da nova Aliança, que é derramado por muitos’.” (Mc 14,23-24).
A fé católica nos ensina que a Eucaristia – o Santíssimo Sacramento - ação de graças e louvor a Deus, é a fonte maior da vida cristã. Contém todo o bem espiritual da Igreja, o próprio Cristo, nossa Páscoa. Por ela, nos unimos à liturgia celeste e antecipamos, já na terra, a vida eterna.
De acordo com São João Paulo II, a Igreja vive da
Eucaristia, seu tesouro. Para o Concílio Vaticano II, ela é a fonte e o
centro da vida cristã.
Santo Agostinho destaca a presença real de Cristo na
Eucaristia.
Na Exortação Apostólica Sacramentum Caritatis,
do papa emérito Bento XVI, lemos que a Eucaristia, Sacramento
da Caridade, é a doação que Jesus Cristo faz de Si mesmo, revelando-nos o amor
infinito de Deus por cada homem. No sacramento do altar, o Senhor vem ao
encontro do homem, criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1, 27), fazendo-Se
seu companheiro de viagem. Neste sacramento, Jesus torna-Se
alimento para o homem, faminto de verdade e de liberdade. Uma vez que só a
verdade nos pode tornar verdadeiramente livres (Jo 8, 36), Cristo faz-Se
alimento de Verdade para nós. A Eucaristia é, por excelência, mistério da fé.
Antes, na Antiga Aliança (Êxodo 16), o pão e o vinho já eram oferecidos em sacrifício em louvor à divindade. No contexto do Êxodo, os pães ázimos recordavam a partida libertadora dos judeus do Egito. O maná, no deserto, caia
do céu, como o pão e alimento físico e espiritual para o povo de Israel. Agora, o Pão da
Vida, descido do céu, na Eucaristia, alimenta espiritualmente o fiel.
"Em verdade, em verdade, vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós" (Jo, 6,53)
O sacramento da Eucaristia, dada a sua relevância, é chamado
santíssimo porque nos dá o próprio autor da graça, Cristo.
Os sacramentos, comunicados pela Igreja, são visíveis, sinais da graça, que é invisível. Consistem nos canais pelos quais a graça, conquistada por Jesus, na Cruz, nos é dada. Agem por si só, ex opere operato, mas só possuem eficácia quando temos fé. A graça, sacramento dos vivos, fica ligada ao fiel.
A matéria e os sinais essenciais do sacramento são o pão, feito de trigo, e o vinho, de uva, sobre os quais é invocada a bênção do Espírito Santo. A forma consiste nas palavras que próprio Cristo utilizou na
Última Ceia: isto é o Meu Corpo; isto é o Meu Sangue.
Não se trata de um mero símbolo. No altar, quando o sacerdote,
o próprio Jesus, pronuncia as palavras Isto é o Meu Corpo, isto é o Meu
Sangue, pela invocação do Espírito Santo, ocorre o milagre da transubstanciação: mudam-se as substâncias do
pão e do vinho consagrados, que se convertem no verdadeiro Corpo e no Sangue de
Nosso Senhor Jesus Cristo, ressurreto e vivo, ainda que os seus acidentes (a
aparência, a textura, o gosto e o cheiro são de pão e de vinho) continuem os
mesmos.
Bem aventurados os que creem sem terem visto!
“O nosso Salvador instituiu na
última ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu
Corpo e do seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até ele voltar,
o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua
morte e ressurreição” (Sacrosanctum Concilium, n. 47)
Santo Tomás de Aquino ensina que não se pode descobrir a presença do verdadeiro Corpo de Cristo e do verdadeiro Sangue de Cristo, neste sacramento, pelos sentidos, mas só pela fé, baseada na autoridade de Deus.
Cristo instituiu este sacramento para que pudéssemos nos alimentar
espiritualmente Dele, que é o Caminho, a Verdade e a Vida. Com a graça do Espírito Santo, participarmos da comunhão
com Deus. Cristo, que nos deu a graça, entra em nós, em uma união íntima e
sagrada do corpo, sangue, alma e divindade do Salvador.
"Não perguntes se é ou não verdade; aceita com fé as palavras do Senhor, porque Ele, que é a Verdade, não mente" (São Cirilo).
Ele é o Pão da Vida descido do céu.
Pelo sacrifício, único e suficiente, de Cristo é que
nos chega a graça. O autor da graça é o próprio Cristo, presente na Eucaristia.
Na missa, o sacerdote, elevado à esta condição pelo sacramento da Ordem, é aquele que oferece o sacrifício, in personae Christi. Cristo age a partir e através do sacerdote. No sacrifício da missa, como foi no calvário, Jesus é a vítima e também o (sumo) sacerdote da Nova Aliança. Ele próprio, de forma invisível, representado pelo bispo ou presbítero, quem preside toda a celebração eucarística.
Felizes os
convidados para a ceia do Senhor. A festa das núpcias, a ceia definitiva entre os homens e Deus, será
celebrada, em sua plenitude, somente no Fim dos Tempos (“... até que Ele
venha”). Mas na missa, a festa redentora é antecipada na Eucaristia.
A Eucaristia, que
faz continuar a Última Ceia, se traduz na antecipação do sacrifício na Cruz e
possui algo de escatológico porque nos faz lembrar dos Últimos Tempos.
Santo Tomás de Aquino afirmou que:
“Nenhum outro sacramento é mais salutar do que a eucaristia. Pois, nele os pecados são destruídos, crescem as virtudes e a alma é plenamente saciada de todos os dons espirituais. A Eucaristia é o memorial perene da paixão de Cristo, o cumprimento perfeito das figuras da antiga aliança e o maior de todos os milagres que Cristo realizou” que a Eucaristia constitui o maior milagre realizado por Jesus neste mundo.”
A Eucaristia alimenta, restaura
e nutre a alma dos homens, aproximando-os da união com Deus. Nos unimos ao Corpo
de Cristo em nosso próprio corpo; recebemos a graça transformadora da presença
de Nosso Senhor.
Se o Batismo inaugura a vida da graça, os sacramentos,
operados pelo Cristo, são os canais da graça, as ações eficazes de Deus.
Participar plenamente da missa, como quem vai ao próprio Calvário. Para comungar, a preparação deve
ser piedosa, porque iremos nos unir a Cristo. São Paulo exorta a um prévio exame de consciência (1Cor 11,27-29)
Para estarmos em estado de graça, é preciso preparamos o
corpo, com a observância do jejum eucarístico de uma hora antes de comungarmos,
e da alma, através da fé de que na Eucaristia está o corpo, sangue, alma e divindade
de Cristo. Somente assim estaremos em perfeita unidade com Cristo.
Em João 6:51-58, Jesus disse que quem não comer da minha carne e beber do meu sangue não terá parte
comigo.
Eucaristia e a cruz são o mesmo mistério. O sacramento é celebrado ao ser feito o sacrifício. O sacrifício é feito ao ser celebrado o sacramento. A eucaristia - que conserva, aumenta e renova a vida da graça recebida no Batismo - só é sacramento por ser sacrifício e só é sacrifício porque é sacramento.
É o sacramento por excelência. Nele está presente o próprio
Cristo, o autor da graça. A comunhão - que aumenta nossa união com Cristo - é obrigatória para a perfectibilização do
sacrifício.
Ele é o santíssimo sacrifício. Perpetua o sacramento e a presença real de Cristo por perpetuar nele o sacrifício.
Jesus
Cristo se ofereceu, por amor e misericórdia, como um sacrifício perfeito e
suficiente para a remissão dos nossos pecados. A eucaristia é a renovação deste sacrifício; é a cruz tornada
presente, de forma incruenta.
Na Eucaristia estão presentes, aqui na terra, o mesmo corpo e o mesmo sangue, a mesma alma e divindade do próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, que está no céu. O mesmo Cristo que, sob ação do Espírito Santo, se encarnou no meio de nós, nascido da Virgem Maria. O Verbo divino se fez carne e habitou entre nós.
É a mesma pessoa que andou, peregrinou e ensinou pela Galileia e Judeia, sob o domínio do Império Romano, no governo de Pôncio Pilatos. É aquele que, sob as regras judaicas, foi circuncidado no oitavo dia de vida, já antecipando o derramamento de sangue por nós, 33 anos depois. É o mesmo Jesus que, por ocasião da festa da Páscoa, em Jerusalém, se perdeu dos pais e foi encontrado no Templo, aos doze anos, já ensinando. Ele chamou e escolheu seus doze Apóstolos. É aquele que sofreu as tentações no deserto e iniciou seu ministério com a realização do primeiro milagre, da transformação da água em vinho, nas Bodas de Caná.
Foi Ele quem pregou e ensinou as bem-aventuranças; contou parábolas; realizou inúmeros milagres; paciente, anunciou o Reino de Deus; converteu Saulo de Tarso; ressuscitou Lázaro; curou cegos, coxos e endemoniados.
Após desagradar os fariseus, mestres da lei e as autoridades da época, foi perseguido, traído e humilhado. Antevendo sua Paixão, quis ardentemente comer a páscoa com os seus Discípulos. Na Última Ceia, em sinal de humildade e serviço, lavou-lhes os pés. Anunciou o traidor e, após, instituiu o sacramento da Eucaristia, como memória de sua morte e de sua ressurreição, dando-lhes o mandamento do amor. Ordenou a seus Apóstolos que a celebrassem até a sua volta: “fazei isto em memória de mim”. Em seguida, entregou-se e deixou-se capturar.
Sabendo, desde
sempre, como seria o fim, sofreu, como humano, no Monte das Oliveiras. Em agonia, suou
sangue. Pediu para que o Pai afastasse Dele aquele cálice, mas que se fizesse a Sua vontade. Nosso Senhor Jesus Cristo, sob a lei judaica, foi julgado pelo
Sinédrio, chefiado por Caifás, e injustamente condenado, pelo governador romano Pôncio Pilatos. Foi
crucificado, morto e sepultado. Desceu à mansão dos mortos. Ao terceiro dia,
ressuscitou. Depois de quarenta dias, elevou-se e subiu ao céu, de corpo e alma, glorioso. Está
sentado à direita de Deus Pai todo poderoso, onde há de vir a julgar os vivos e
os mortos.
É o mesmo Jesus encarnado, crucificado, que caminhou na
terra entre nós, comeu, bebeu, chorou, sangrou e sofreu.
“Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele” (Jo 3, 16-17)
Quanto mais participamos da vida de Cristo; quanto mais estreitamos e progredimos em Sua amizade, mais nos afastamos do pecado e nos aproximamos da antecipação da glória celeste.
Através da nossa fé cristã, provida pela graça divina, temos a oportunidade de entrarmos em comunhão com o próprio Deus, através da Eucaristia, memorial sacrifical de Cristo e de seu corpo, onde se faz presente, vivo e ressurreto, o próprio Filho do Homem, Jesus Cristo, o leão da tribo de Judá e descendente de Davi.
No amor e na paz de Nosso Senhor Jesus Cristo!