segunda-feira, 28 de abril de 2025

Escatologia, a doutrina do Fim dos Tempos

 


ESCATOLOGIA CRISTÃ: AS ÚLTIMAS COISAS

A escatologia, no contexto cristão, é a doutrina teológica que estuda as "últimas coisas" ou novíssimos - os eventos finais da história humana e o destino eterno de cada pessoa.

A premissa central da escatologia cristã é que Cristo ressuscitado constitui o centro da esperança cristã. Jesus é o Fim de toda criação, o destino final da humanidade, nosso único futuro. Toda a história caminha para Ele.

No Apocalipse 21:6, encontramos esta declaração fundamental: "Está consumado! Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. A quem tiver sede, eu darei, de graça, da fonte da água viva." 

Este versículo sintetiza a promessa da nova criação e do Reino de Deus consumado, afirmando que Deus é o início e o término de todas as coisas, garantindo a renovação final do universo por Sua soberania.

A Segunda Vinda de Cristo e o Juízo Final - A Promessa do Retorno

A Revelação, a Sagrada Escritura e a fé católica afirmam que Jesus Cristo retornará em glória. Não se trata de um evento simbólico, mas de um acontecimento concreto: o Senhor, no fim dos tempos, descerá dos céus em corpo e alma para reinar e julgar a humanidade.

Este evento culminará no Juízo Universal. Os vivos se apresentarão diante de Deus com seus corpos transformados à semelhança do corpo glorioso de Cristo. Os mortos ressuscitarão, concretizando a prometida ressurreição da carne.

Hebreus 9:27 afirma: "Está determinado que os homens morram uma só vez, e depois vem o juízo." Nossa vida é única e tem consequências eternas.

O Catecismo da Igreja Católica (CIC 1021) ensina: "A morte põe fim à vida humana como tempo aberto à aceitação ou rejeição da graça divina manifestada em Cristo."

Segundo o Gênesis, a morte entrou no mundo por meio do pecado original (Gn 2:17; 3:19). O ser humano, criado para viver em comunhão com Deus, ao desobedecê-Lo, rompe essa união e experimenta a morte – espiritual e corporal – como consequência.

Como afirma Romanos 6:23: "O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus."

O Catecismo ensina (CIC 1013): "A morte é o fim da peregrinação terrestre do homem, do tempo da graça e da misericórdia que Deus lhe oferece para realizar sua vida segundo o desígnio divino."

Em Filipenses 1,21, São Paulo declara "Para mim, o viver é Cristo e o morrer é lucro", revelando uma profunda transformação existencial onde Cristo torna-se o centro e propósito de sua vida, enquanto a morte é vista não como fim trágico, mas como ganho por permitir comunhão plena com Cristo. 

Aqueles que já estão purificados de seus pecados, logo após a morte, mesmo antes do juízo final, estarão no paraíso, que é estar com Cristo, exatamente porque Jesus já ressuscitou e subiu ao céu, onde está sentado à direita de Deus Pai todo poderoso.

Nesse sentido, a Constituição Benedictus Deus (1336) do Papa Bento XII representa um marco decisivo na teologia católica sobre o destino das almas, estabelecendo dogmaticamente que as almas dos justos (santos, fiéis batizados e crianças falecidas após o batismo) experimentam imediatamente após a morte física (ou após a necessária purificação) a visão beatífica - contemplando diretamente a essência divina de maneira intuitiva, face a face, sem intermediários. Essa visão divina proporciona completa bem-aventurança, substituindo a fé e a esperança por uma experiência direta e ininterrupta da presença de Deus, que continuará eternamente mesmo após o juízo final.

Em contrapartida, a constituição define com igual clareza que as almas daqueles que morrem em pecado mortal descem imediatamente ao inferno após a morte, onde são submetidas aos tormentos infernais. A doutrina do juízo final, quando todos os seres humanos comparecerão corporalmente perante o tribunal de Cristo para prestar contas de seus atos terrenos, recebendo o que lhes corresponde conforme suas obras, sejam boas ou más, conforme expresso em 2 Coríntios 5:10.

O Juízo Universal e o Juízo Particular

O Juízo Universal confirmará o Juízo Particular. Quando morremos, nossa alma separa-se do corpo e comparece perante o tribunal divino, onde é determinado seu destino eterno: céu, purgatório ou inferno. Uma alma sem graça é destinada irrevogavelmente ao inferno. Uma alma em estado de graça, livre de pecado, destina-se ao céu, podendo passar pelo purgatório caso ainda necessite de purificação. O purgatório constitui, portanto, uma etapa transitória de preparação para o céu.

Os falecidos, já julgados no Juízo Particular, serão novamente julgados no Juízo Final/Universal diante de todos. Trata-se de um ato de justiça divina onde os humilhados serão exaltados, os exaltados serão humilhados. Nada permanecerá oculto.

Satanás, ciente da impossibilidade de vencer a batalha contra Deus, busca apenas arrastar outros consigo para a perdição.

João 5:28-29 anuncia: "Os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que praticaram o mal, para a condenação."

O Catecismo (CIC 1038) ensina: "A ressurreição de todos os mortos, 'dos justos e dos injustos', precederá o Juízo Final. Será a hora em que todos aqueles que estiverem nos túmulos ouvirão a voz do Filho do Homem e sairão para o Juízo."

Apocalipse 20:12 descreve: "Vi os mortos, grandes e pequenos, de pé diante do trono, e foram abertos livros. E os mortos foram julgados segundo as suas obras."

O Purgatório e a restauração da Alma

Quem está no purgatório tem como destino certo o céu. O purgatório não representa uma punição, mas um processo de purificação para a alma estar plenamente preparada para Deus.

Não se trata de uma segunda chance, mas de um estado de purificação para aqueles que morreram na graça divina, porém ainda carregam imperfeições. Quem passa pelo purgatório não está condenado, mas já está salvo; todos chegarão ao céu.

Em 1 Coríntios 3:15, Paulo escreve: "Se a obra de alguém se queimar, sofrerá prejuízo; mas será salvo, todavia como pelo fogo." Isso sugere um processo de purificação antes da entrada definitiva no céu.

Podemos comparar nossa alma a uma tábua de madeira. O pecado é como um prego que causa uma fissura nessa tábua. Ao morrermos com esses "pregos", seríamos destinados ao inferno. Contudo, Jesus, por sua morte na cruz, obteve para nós a graça que nos permite remover nossos pecados através de orações, sacramentos, boas ações e atos de arrependimento.

Pelo batismo, arrependimento e confissão dos pecados, removemos, pela graça, esses "pregos" de nossa alma. Morrer em estado de graça nos afasta do inferno e nos direciona ao céu. Entretanto, ao remover o prego, permanece o orifício na tábua. A restauração completa da alma requer o preenchimento desses orifícios.

Distingue-se, portanto, a culpa do pecado (ou pena eterna) das consequências do ato pecaminoso. Mesmo quando o pecado é perdoado, sua consequência - denominada pena temporal - permanece maculando a alma.

Se o perdão do pecado exige a graça divina, especialmente pelos sacramentos, o preenchimento dos "orifícios" na alma requer satisfação e reparação. Na confissão, o sacerdote nos absolve dos pecados declarados (remoção do prego) e, em seguida, impõe uma penitência - orações, meditações, boas ações - que serve para reparar o pecado já perdoado (preenchimento do orifício).

Penitências voluntárias, orações em estado de graça e atos de caridade contribuem para essa reparação. Essas boas obras geram méritos sobrenaturais que, unidos aos méritos de Cristo na cruz, auxiliam na reparação das consequências do pecado.

Cristo já pagou o preço do pecado na cruz. Recebemos a absolvição e o perdão no momento da confissão, que nos comunica a graça conquistada por Cristo.

Ao nos apresentarmos diante de Deus com a alma livre de pecado, não seremos destinados ao inferno. Se as consequências de nossos pecados tiverem sido integralmente reparadas, iremos diretamente ao céu. Caso contrário, a reparação será completada por meio do sofrimento purificador no purgatório.

A maioria dos justificados e salvos passará pelo purgatório, pois raramente as consequências de todos os pecados são integralmente reparadas em vida.

Existem, contudo, pessoas excepcionais que, por seu amor intenso a Deus, sua mortificação, fé, esperança e caridade, conseguem não apenas reparar completamente suas próprias faltas, mas também acumular méritos excedentes

Sendo a Igreja uma Comunhão dos Santos, esses méritos adicionais integram seu tesouro espiritual. A Igreja pode então aplicar esses méritos a outras pessoas em estado de graça, mediante condições específicas conhecidas como indulgências (parciais ou plenas). As indulgências representam a reparação das consequências do pecado graças aos atos excepcionalmente meritórios dos santos e beatos.

No fim dos tempos, o Juízo Universal confirmará o Juízo Particular. Esta confirmação manifesta mais amplamente a glória e o poder divinos, além de estender ao corpo ressuscitado a correspondente recompensa ou castigo.

Enquanto nosso corpo permanece na terra e nossa alma no céu ou no inferno, é a alma que experimenta sofrimento ou júbilo. Com o retorno de Jesus - Parusia - e a ressurreição no Juízo Final, a alma se reunirá ao corpo. Se a alma estiver no inferno, o corpo também para lá se dirigirá, partilhando seu sofrimento. Se a alma estiver no céu, o corpo gloriosamente a ela se unirá. 

O Juízo Universal, portanto, determinará a recompensa ou condenação eterna do corpo.

Além disso, no Juízo Universal, segundo a soberania, justiça e sabedoria divinas, será permitido que todos os seres humanos contemplem esse julgamento e compreendam por que alguns são condenados e outros salvos. Por exigência de justiça, tudo será revelado a todos. Cristo presidirá, acompanhado por seus Santos, para julgar vivos e mortos ressuscitados.

O purgatório não é castigo, mas misericórdia - o "espaço" onde as almas são purificadas para entrar no céu. Não constitui um destino final, mas uma etapa transitória da salvação.

O Catecismo (CIC 1031) ensina: "A Igreja chama purgatório à purificação final dos eleitos, que é inteiramente distinta do castigo dos condenados."

As almas do purgatório intercedem por nós, e a Igreja nos exorta a rezar por elas, especialmente através das indulgências (2Mc 12:46).

1 Coríntios 3:13-15 esclarece: "A obra de cada um será manifestada; o Dia a demonstrará, porque será revelada pelo fogo. Se a obra resistir, ele receberá a recompensa; se a obra se queimar, sofrerá perda, mas ele mesmo será salvo, todavia como pelo fogo."

Este "fogo" não representa castigo, mas um processo de purificação para eliminar os vestígios do pecado.

O Catecismo (CIC 1030) afirma: "Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas ainda imperfeitamente purificados, passam por uma purificação final, a fim de obter a santidade necessária para entrar na alegria do céu."

Céu e Inferno: nossos possíveis destinos

Nossas escolhas terrenas determinam nosso destino eterno: céu, purgatório ou inferno. Podemos alcançar o céu com nossa alma e, após a ressurreição, com nosso corpo, desfrutando eternamente da bem-aventurança na presença divina. Alternativamente, conforme nosso comportamento, podemos morrer em pecado, sem estado de graça, e ser destinados ao inferno, inicialmente com a alma e, após a ressurreição, também com o corpo.

A consciência das consequências de nossas ações e a resposta à graça salvífica de Deus constituem poderosos mecanismos psicológicos para evitar o pecado. Essa compreensão nos motiva a colaborar com a graça divina, cumprir nossa parte, buscar a santidade e, assim, assegurar nossa salvação. Temos, contudo, a liberdade e o livre-arbítrio para rejeitar esse caminho e, consequentemente, dirigir-nos ao inferno.

Para a condenação, basta não fazer nada. Nossa vida comum, afastada da graça e de Deus, naturalmente nos conduz ao inferno. Devido à concupiscência (consequência do pecado original, removido pelo batismo), tendemos ao mal, ao pecado e ao afastamento de Deus por nossas próprias escolhas. Sucumbir às tentações mundanas e viver com indiferença em relação a Deus é suficiente para a condenação.

Devemos corresponder à graça recebida no batismo e desenvolver nossa busca por Deus, auxiliados pela graça. As graças atuais nos impelem a ações positivas: oração, estudo, caridade, justiça, bondade, participação na Missa dominical e recepção dos sacramentos.

Para alcançar o céu, necessitamos primordialmente da graça (decreto soberano de Deus que nos salva) e de nossa correspondência a ela. As graças atuais nos conduzem à conversão, à qual respondemos pela recuperação e vivência da graça santificante já recebida.

Quem morre com pecados mortais não perdoados ou com o pecado original não perdoado destina-se irrevogavelmente ao inferno.

Após a morte, quem tem seus pecados mortais perdoados destina-se ao céu, passando ou não pelo purgatório. O purgatório é necessário para quem possui apenas pecados veniais ou para quem ainda precisa satisfazer as consequências de pecados mortais já perdoados.

A escatologia próxima examina as últimas realidades relacionadas à nossa morte, distinta da ressurreição nos últimos dias.

A ressurreição dos mortos ocorrerá quando Cristo retornar para julgar vivos e mortos no Juízo Universal, confirmando o Juízo Particular.

Desconhecemos o momento desse retorno, mas existem sinais premonitórios. O Apocalipse (Revelação) de São João, escrito na ilha de Patmos, admite duas interpretações principais: preterista (referente a eventos passados) ou futurista/escatológica (alusiva aos últimos tempos da história humana). A Igreja não rejeita nenhuma dessas interpretações, adotando uma abordagem mista que contempla tanto fatos passados quanto futuros.

O Céu: comunhão eterna com Deus

A esperança cristã fundamenta-se na promessa do céu: a visão beatífica, onde veremos Deus face a face. O céu transcende a noção de "lugar"; é o estado de plenitude, de amor perfeito e de comunhão com todos os santos.

No céu, todos se reconhecerão e amarão mutuamente, mas não mais necessitarão uns dos outros, pois Cristo será tudo em todos.

Jesus afirma em João 11:25: "Quem crê em mim, ainda que morra, viverá."

O céu, portanto, é um estado de perfeita união com Deus e comunhão com os santos e anjos.

Apocalipse 22:5 descreve: "Não haverá mais noite; não precisarão de luz de lâmpada, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus os iluminará, e reinarão para todo o sempre."

Em João 14:2-3, Jesus promete: "Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se não fosse assim, eu vos teria dito. Vou preparar-vos um lugar."

O Catecismo (CIC 1023) ensina: "Os que morrem na graça e amizade de Deus e que estão perfeitamente purificados vivem para sempre com Cristo."

O céu constitui a recompensa dos justos, onde não haverá mais dor, sofrimento ou separação de Deus. É, essencialmente, estar com Cristo. O mais importante não é onde, mas com quem.

Em Apocalipse 21:4, lê-se que no céu "Deus enxugará toda lágrima dos olhos, e não haverá mais morte, nem pranto, nem dor."

Santo Irineu, ainda no século II, dizia que todos aqueles que veem a Luz estão na Luz. Quem vê a Deus percebe a sua Glória: o que dá a Vida é a Glória de Deus. Deus dá a Vida a quem o contempla e vê.

A plenitude da nossa vida é a comunhão com Jesus ressuscitado. O céu é uma relação de amor eterno. Será louvor, alegria e plenitude completa. Repletos do Espírito Santo, estaremos imersos em Cristo e, por Ele e Nele, veremos o Pai e, por isso, seremos imortais.

Santo Agostinho, no século V, proclamava que a exultação da nossa Vida eterna será o louvor de Deus, para o qual ninguém estará preparado se não se exercitar desde agora.

O Inferno: consequência da rejeição de Deus

O inferno é o estado de separação eterna de Deus. Deus não condena ninguém ao inferno; a pessoa se fecha para Deus por sua própria escolha.

Em Mateus 25:41, lemos: "Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos."

O Catecismo (CIC 1033) ensina: "Não podemos estar em união com Deus se não escolhermos livremente amá-Lo. Mas não podemos amar a Deus se pecarmos gravemente contra Ele, contra o nosso próximo ou contra nós mesmos: «Quem não ama permanece na morte. Todo aquele que odeia o seu irmão é um homicida: ora vós sabeis que nenhum homicida tem em si a vida eterna» (1 Jo 3, 14-15). Nosso Senhor adverte-nos de que seremos separados d'Ele, se descurarmos as necessidades graves dos pobres e  dos pequeninos seus irmãos (629). Morrer em pecado mortal sem arrependimento e sem dar acolhimento ao amor misericordioso de Deus, significa permanecer separado d'Ele para sempre, por nossa própria livre escolha. E é este estado de auto exclusão definitiva da comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa pela palavra «Inferno»."

Deus oferece a salvação a todos, mas aqueles que conscientemente O rejeitam excluem-se da vida eterna. A existência do inferno é uma verdade de fé. Não resulta da justiça sem misericórdia, mas da liberdade humana usada para rejeitar definitivamente a Deus.

O Catecismo (CIC 1037) afirma: "Deus não predestina ninguém ao inferno. Para isso, é preciso uma aversão voluntária a Deus (pecado mortal) e a perseverança nela até o fim."

O inferno não é um castigo imposto por Deus, mas a consequência da rejeição definitiva de Seu amor. Deus não deseja que alguém vá para o inferno, mas respeita a liberdade humana. Quem escolhe viver longe de Deus nesta vida permanece separado Dele na eternidade.

Portanto, esforçai-vos por entrar na porta estreita. Pois eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão (Lc 13,23s).

A Nova Criação – o novo Céu e a nova Terra

No fim dos tempos, Deus julgará todos os povos e inaugurará uma nova criação. Todos os mortos ressuscitarão para enfrentar o Juízo Final. Será o momento definitivo quando Deus estabelecerá a plenitude do Seu reino.

A nova criação será um estado de glória onde Deus reinará plenamente sobre os justos.

Todos comparecerão perante o grande tribunal diante do juiz supremo. Cada ação da vida será considerada e cada pessoa receberá sua sentença eterna.

Após o Juízo Final, ocorrerá uma transformação completa do universo. O mundo será renovado e Deus habitará com os justos.

Apocalipse 21:1-4 revela: "Vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado, e o mar já não existia. Deus enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá."

O Catecismo (CIC 1044) ensina: "Neste mundo novo, a Jerusalém celeste, Deus terá a sua morada entre os homens. "Ele enxugará todas as lágrimas dos seus olhos. A morte deixará de existir, e não mais haverá luto, nem clamor, nem fadiga, porque as coisas anteriores passaram" (Ap 21, 4)."

O documento intitulado “Algumas questões de Escatologia”, da Congregação para a Doutrina da Fé, de 17 de maio de1.979 apresenta os ensinamentos fundamentais da Igreja Católica sobre o que acontece entre a morte do cristão e a ressurreição universal. Trata-se de uma exposição sistemática das crenças católicas sobre o estado da alma após a morte e o destino final da pessoa humana.

Principais pontos doutrinais:

  1. Ressurreição dos Mortos: A Igreja afirma categoricamente sua crença na ressurreição dos mortos, como atestado no Símbolo dos Apóstolos (o Credo). Esta é uma doutrina fundamental da fé católica.
  2. Ressurreição Integral: Esta ressurreição se refere ao ser humano em sua totalidade, não apenas a uma parte da pessoa. Para aqueles que são salvos (os eleitos), esta ressurreição é uma extensão da própria Ressurreição de Cristo.
  3. Sobrevivência da Alma: A Igreja ensina que após a morte sobrevive e subsiste um elemento espiritual dotado de consciência e vontade, permitindo que o "eu humano" continue a existir. Este elemento é tradicionalmente chamado de "alma", termo consagrado pela Escritura e pela Tradição.
  4. Distinção Temporal: Em conformidade com a Sagrada Escritura, a Igreja espera a "gloriosa manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo", considerando este evento como distinto e posterior à condição imediata do homem após a morte.
  5. Singularidade da Assunção de Maria: Ao expor sua doutrina sobre o destino pós-morte, a Igreja ressalta a natureza única da Assunção de Nossa Senhora, como antecipação da glorificação corporal que aguarda todos os outros eleitos.
  6. Estados Eternos e Purificação: A Igreja afirma sua crença na felicidade eterna dos justos que "estarão um dia com Cristo"; uma pena eterna para os pecadores privados da visão de Deus (Inferno); uma possível purificação prévia necessária para alguns eleitos antes da visão de Deus (Purgatório), que é completamente diferente da pena dos condenados

Este documento reafirma a posição tradicional católica sobre a vida após a morte, enfatizando a continuidade da existência pessoal através da alma, a expectativa da ressurreição final e os possíveis destinos eternos da pessoa humana, sempre em relação com Cristo e fundamentados na revelação bíblica e na Tradição da Igreja.


quarta-feira, 19 de março de 2025

A revelação da Santíssima Trindade


Deus é um espírito perfeitíssimo, eterno, onipotente, onisciente e criador de todas as coisas. Ele não possui corpo e é absolutamente uno.

A doutrina da Santíssima Trindade ensina que há um único Deus em três Pessoas distintas: Pai, Filho e Espírito Santo. O que diferencia essas Pessoas divinas, que compartilham a mesma natureza, poder e sabedoria, não é a essência ou atributos, pois todas possuem a mesma natureza divina, mas sim a relação de origem de cada uma (possuem funções distintas dentro da Trindade).

Essa relação de origem, além de estabelecer a distinção, explica como as Pessoas se relacionam entre si eternamente, sem que haja distinção de tempo ou cronologia.

Cada Pessoa da Trindade possui uma relação de origem específica:

  • O Pai: Gera o Filho e é a fonte da divindade.
  • O Filho: É gerado eternamente pelo Pai, sendo a perfeita Imagem divina.
  • O Espírito Santo: Procede do amor entre o Pai e o Filho, sendo a personificação desse amor.

O Pai, o Filho e o Espírito Santo são igualmente eternos, infinitos e onipotentes. Não há hierarquia entre eles, pois cada um é plenamente Deus. O Pai é a origem, mas isso não significa que Ele exista antes do Filho ou do Espírito. O Pai gera o Filho, e essa geração acontece eternamente no Espírito Santo.

A Trindade é um mistério de comunhão e unidade. O Pai é aquele que ama. O Filho é o amado, aquele que recebe o amor do Pai e o Espírito Santo é o amor, o vínculo eterno entre o Pai e o Filho.

Não há separação cronológica, pois o Pai sempre gera o Filho e, juntos, procedem o Espírito Santo.

Santo Agostinho chama o Espírito Santo de Amor, pois Ele é o vínculo entre o Pai e o Filho.

O Pai – fonte da divindade - é a causa fontal, ou seja, é d'Ele que procedem o Filho e o Espírito Santo. Ele não é gerado por ninguém, sendo princípio absoluto dentro da Trindade. 

Deus é Aquele que é. "Eu Sou Aquele que SOU".

O Pai, ao contemplar-se a si mesmo, formula um pensamento sobre Si mesmo e gera uma Imagem perfeita de sua própria essência, que é o Filho.

Santo Tomás de Aquino chama isso de "Geração", um ato perfeito e eterno.

O Pai é chamado de "monarca", não no sentido de ser superior às outras Pessoas, mas sim no sentido de ser a origem da geração e da processão.

A Encarnação é a revelação do Filho de Deus. O anjo Gabriel anuncia a Maria que o nome do filho será Emanuel ("Deus conosco"). O Verbo se fez carne e habitou entre nós. Os milagres, ensinamentos e declarações de Jesus confirmam sua divindade.

O Filho e o Espírito Santo não diminuem a unidade de Deus, pois tudo é compartilhado entre eles, exceto a relação de oposição.

O Filho (Verbo, Logos) é eternamente gerado pelo Pai. Ele é a Imagem perfeita de Deus: o Pai contempla sua própria perfeição e gera um conceito perfeito de si mesmo, que é o Filho. É o Pensamento vivo em que Deus se expressa perfeitamente a Si mesmo. 

"Se me conhecestes, conhecerei também o meu Pai. Desde já o conheceis e o tendes visto (...) Quem me viu, tem visto o Pai (João, 14, 7-9)

São Paulo diz que Cristo é "a imagem do Deus invisível" (Colossenses 1,15).

Esse conceito da geração do Filho está ligado à inteligência divina, já que a contemplação do Pai gera o Verbo, que é plenamente Deus. 

Então, o Filho não é criado, mas gerado A geração do Filho não é um evento temporal, mas algo eterno e necessário dentro da Trindade. O Filho sempre existiu, pois a geração é eterna.

Se o Pai sempre existiu, portanto, sempre houve o Filho, pois Ele é a imagem da contemplação do Pai.

O Espírito Santo procede do Pai e do Filho como de um só princípio. Essa processão se dá pelo amor: o Pai ama o Filho perfeitamente, e o Filho ama o Pai perfeitamente. Esse amor recíproco é tão perfeito que é uma Pessoa divina: o Espírito Santo.

Este amor infinitamente perfeito e intenso, que eternamente flui do Pai e do Filho é o próprio Espírito Santo, terceira Pessoa da Santíssima Trindade, que procede do Pai e do Filho. 

Santo Agostinho ensina que o Espírito Santo é o Amor substancial e eterno entre o Pai e o Filho.

Assim, o Filho é gerado pelo Pai por um ato de intelecto (como um pensamento perfeito) e o Espírito Santo procede do Pai e do Filho por um ato de vontade e amor.

A relação de origem não implica que houve um "antes" e um "depois", pois Deus é eterno. O Pai sempre gerou o Filho, e juntos, o Pai e o Filho sempre fizeram proceder o Espírito Santo. O que diferencia as Pessoas não é o tempo, mas a relação de origem.

Essas relações são eternas, sem divisão, sem subordinação e sem perda da unidade de Deus. O Pai é a fonte da divindade, o Filho é a imagem perfeita do Pai, e o Espírito Santo é o amor que une os dois. Essa é a essência da Santíssima Trindade.

A Trindade possui funções distintas ad intra (internamente) e ad extra (na criação). 

Dentro da Trindade, cada Pessoa tem uma função hipostática:

  • O Pai: Causa/Fonte da divindade (Paternidade).
  • O Filho: Gerado pelo Pai (Geração).
  • O Espírito Santo: Procede do Pai e do Filho (Processão).

Em relação às ações no mundo (ad extra), as três Pessoas atuam juntas, mas a Igreja atribui simbolicamente certas funções:

  • O PaiCriação
  • O FilhoRedenção 
  • O Espírito SantoSantificação

Em seus atributos, Deus Pai é o Criador; Deus Filho, o Salvador e Deus Espírito Santo o Santificador. 

O cristão vive o mistério da Trindade como filho de Deus Pai, salvo por Jesus Cristo e como templo do Espírito Santo. A Trindade, segundo Santo Agostinho, muito mais que explicada, deve ser, por nós, adorada.

A revelação da Trindade foi progressiva, sendo plenamente manifestada no Batismo de Jesus, no rio Jordão, por João Batista, seu precursor. 

A doutrina da Trindade foi estabelecida pelos Concílios de Niceia (325) e Constantinopla (381), resultando no Credo Niceno-Constantinopolitano. A Igreja ensina que:

·  Existe um só Deus.

·  Deus é três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.

·  Cada Pessoa é plenamente Deus, mas não são três deuses.

·  Existe um único Deus, que é três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo.

·  Cada Pessoa é plenamente Deus, e não são três deuses distintos.

·  O Pai é eterno, o Filho é eterno e o Espírito Santo é eterno. 

No Concílio de Niceia (325 d.C.) foi definida a consubstancialidade (homoousios) do Filho com o Pai, condenando o arianismo, que negava a divindade de Cristo.

O Concílio de Constantinopla (381 d.C.) explicou a divindade do Espírito Santo e consolidou o Credo Niceno-Constantinopolitano, que a Igreja professa até hoje.

Concílio de Florença (1439 d.C.) aprofundou a teologia sobre a processão do Espírito Santo, definindo que Ele procede do Pai e do Filho (Filioque).

Na Patrística, os Padres da Igreja desempenharam um papel crucial na sistematização da doutrina trinitária:

· Santo Atanásio combateu o arianismo, afirmando que o Filho é "da mesma substância do Pai".

· Santo Agostinho, em De Trinitate, usou analogias psicológicas para explicar a Trindade (a mente, o conhecimento e o amor).

·  São Basílio Magno, Gregório de Nazianzo e Gregório de Nissa, os chamados "Padres Capadócios", defenderam a unidade divina e a distinção das três hipóstases

O Credo de Santo Atanásio, um dos primeiros documentos da Igreja que explica a Trindade de forma detalhada, reafirmando que o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus, mas não são três deuses, e sim um único Deus em três pessoas distintas. Essa é a fé cristã essencial, que deve ser professada e vivida com fidelidade. 

A doutrina da Santíssima Trindade é o centro da fé cristã e um dos mistérios mais sublimes da Revelação divina.

Não é um conceito filosófico criado pelo pensamento humano, mas uma verdade revelada por Deus na história da salvação. Não se trata de uma especulação católica, mas um ensino emergente da Revelação divina

A Igreja reconhece a Trindade porque Deus se revelou assim ao longo da história. Deus não tem “duas faces” ou diferentes aparências, mas se manifesta como realmente é. Assim como uma pessoa se revela verdadeiramente no amor, Deus quis se mostrar ao mundo. Na revelação bíblica, o Pai envia o Filho e, na força do Espírito Santo, age na história para nos salvar.

A revelação plena ocorreu em dois momentos históricos. Primeiro, com a vinda do Filho: Jesus Cristo, ao ser batizado no Rio Jordão, teve sua identidade confirmada por Deus Pai e pelo Espírito Santo. Depois, o envio do Espírito Santo, no Pentecostes, a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos confirmou a Trindade e impulsionou a missão da Igreja.

A Santíssima Trindade foi claramente revelada nas palavras de Jesus ao enviar os apóstolos para batizar: "Ide pelo mundo e batizai a todos em nome do Pai do Filho e do Espírito Santo"

O Antigo Testamento, ainda que não apresente explicitamente a noção de Trindade, contém elementos que prefiguram essa realidade. O Novo Testamento, por sua vez, expõe essa verdade de maneira definitiva.

O Antigo Testamento, que nos prepara para a vinda de Cristo, enfatiza a unicidade de Deus ("Ouve, ó Israel! O Senhor, nosso Deus, é o único Senhor" – Dt 6,4), mas há passagens que sugerem uma pluralidade dentro da divindade:

· Gn 1,26: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança". O uso do plural sugere uma realidade mais complexa na interioridade divina.

· Gn 18: A aparição dos três homens a Abraão em Mambré tem sido interpretada, por alguns Padres da Igreja, como uma prefiguração da Trindade.

· Is 6,3: A tríplice aclamação dos serafins ("Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos") é lida por muitos exegetas como um eco da pluralidade de pessoas em Deus.

No Antigo Testamento, Deus se revela principalmente como Criador, sem a distinção clara entre Pai, Filho e Espírito Santo. Entretanto, sinais da Trindade já aparecem, como no Gênesis, onde se menciona que o Espírito de Deus pairava sobre as águas. A criação ocorre pelo poder da palavra, uma referência a Cristo, o Verbo de Deus.

A Encarnação de Jesus é apresentada como a revelação do Filho de Deus, e sua divindade fica evidente na Anunciação a Maria, quando o anjo diz que seu filho se chamará Emanuel (Deus conosco). O nascimento de Jesus é marcado por eventos sobrenaturais, como a adoração dos pastores e dos magos, que reconhecem sua realeza divina. Ao longo de sua vida pública, Jesus se refere a Deus como "Pai" e ensina seus discípulos a rezar o Pai Nosso, deixando claro seu relacionamento especial com Ele. 

Mas a clareza sobre a Trindade emerge plenamente no Novo Testamento. A manifestação trinitária mais explícita ocorre no batismo de Jesus (Mt 3,16-17), onde o Pai fala do céu, o Filho é batizado e o Espírito Santo desce em forma de pomba. Outras passagens fundamentais incluem:

· A Grande Comissão (Mt 28,19): "Ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo."

· A bênção paulina (2Cor 13,13): "A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vocês."

· O Prólogo de João (Jo 1,1-14): O Verbo eterno estava junto de Deus e era Deus, revelando uma distinção de pessoas na unidade divina.

A história da salvação revela a Trindade ao longo de quatro mil anos. Desde Abraão (2.000 a.C.), Deus ensinou ao povo que Ele é o único Deus verdadeiro. Durante séculos, profetas combateram a idolatria e prepararam o caminho para a vinda do Messias.

Na Bíblia, encontramos diversas manifestações da presença de Deus, como quando Moisés sobe ao Monte Sinai para encontrar-se com Deus. A passagem menciona que Moisés viu Deus "de costas", o que significa que ele teve apenas um vislumbre da glória divina, mas sem compreendê-la totalmente. 

Deus é um mistério que nos ultrapassa, e que jamais poderemos "controlá-Lo" ou compreendê-Lo plenamente. Há um limite de entendimento para a mente humana. Nenhum intelecto criado pode alcançar a profundidade de Deus, em sua infinitude. O Criador revela a verdade sobre si mesmo, inclusive na Trindade santa e eterna. Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida.

O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que:

234. O mistério da Santíssima Trindade é o mistério central da fé e da vida cristã. É o mistério de Deus em si mesmo. E, portanto, a fonte de todos os outros mistérios da fé e a luz que os ilumina. É o ensinamento mais fundamental e essencial na «hierarquia das verdades da fé». «Toda a história da salvação não é senão a história do caminho e dos meios pelos quais o Deus verdadeiro e único, Pai, Filho e Espírito Santo, Se revela, reconcilia consigo e Se une aos homens que se afastam do pecado».

Jesus deixou claro que Ele e o Pai são um, e que enviaria o Espírito Santo como guia e defensor da humanidade. A revelação da Trindade não aconteceu por meio de um livro ou fórmula matemática, mas através de eventos históricos concretos.

A criação do mundo e toda a obra da salvação são ações da Trindade. Tudo foi feito pelo Pai, através do Filho, no Espírito Santo. Da mesma forma, tudo retorna ao Pai, pelo Filho, no Espírito. Essa dinâmica reflete a comunhão perfeita dentro da Trindade. 

Na eternidade, se repletos da graça, veremos a Deus, mas nunca poderemos compreendê-Lo totalmente. Nossa visão de Deus será plena, mas Ele continuará sendo um mistério infinito.

No projeto de salvação, Jesus é a maior novidade da história: um homem que conhece e ama Deus perfeitamente. O Coração de Jesus é humano e divino, capaz de amar Deus e os homens de maneira infinita.

O mistério da Encarnação é um motivo de imensa alegria, especialmente porque em Jesus, temos um homem que conhece Deus plenamente e nos ensina a amá-Lo.

Na cruz, Deus realiza a justiça e a misericórdia ao mesmo tempo. Finalmente, um homem (Jesus) ama Deus como Ele merece. Deus nos ama, mesmo quando não merecemos. A humanidade merecia a condenação eterna, mas foi salva pelo sacrifício de Cristo.

Depois da ressurreição, Jesus sobe aos céus e envia o Espírito Santo, o outro paráclito, para nos unir a Cristo, fazendo-nos participar do amor divino; nos transformar interiormente, curando nossas feridas espirituais e nos fortalecer, para vivermos como filhos de Deus.

Assim como o Filho revelou o Pai, o Espírito Santo nos revela o Filho. O Espírito nos une a Cristo como a alma une todas as partes do corpo humano. Ele recria e regenera os fiéis, curando as feridas do pecado.

Deus deseja nos moldar à imagem de Cristo, mas para isso precisamos nos deixar transformar. A santidade exige sacrifício e superação do orgulho. Ser cristão não é permanecer o mesmo, mas permitir que Deus nos alcance

A verdadeira fé exige transformação. O batismo simboliza o homem velho morre para dar lugar ao homem novoJesus nos chama a observar seus mandamentos e viver em estado de graça.

A conversão não é opcional: devemos mudar e nos tornar mais parecidos com Cristo. A mudança não pode ser apenas um desejo teórico, mas uma decisão concreta de mudar de vida e seguir os mandamentos de Cristo. 

O Espírito Santo nos fortalece, mas precisamos colaborar. Não basta admirar os santos, é preciso imitá-los. A verdadeira misericórdia de Deus não nos deixa no pecado, mas nos transforma.

A verdadeira misericórdia de Deus nos transforma, não nos deixa na miséria espiritual.

Os santos são a prova viva do poder transformador da Trindade. O Espírito Santo os tornou semelhantes a Cristo. A história da Igreja é repleta de pessoas comuns que, pelo Espírito Santo, se tornaram semelhantes a Cristo. Seus milagres e testemunhos mostram que a santidade é possível ao ser humano.

Nosso objetivo final como cristãos, cheios da graça, é ver Deus face a face no céu e experimentar a felicidade eterna. Somente no céu compreenderemos plenamente o mistério da Santíssima Trindade. Nossa felicidade será completa, pois estaremos na presença do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Santíssima Trindade consiste no o maior mistério da fé cristã: um só Deus em três Pessoas distintas. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são coeternos, iguais em divindade, mas distintos em suas relações de origem

Essa doutrina fundamenta toda a teologia cristã e a compreensão da ação divina na criação, redenção e santificação. O que Um faz, Todos fazem; onde Um está, estão os Três.

A Trindade, assim, nos convida a participar de sua felicidade eterna. A vida cristã é um caminho de preparação para essa glória. Quanto mais nos deixarmos transformar por Deus nesta vida, mais próximos estaremos dessa alegria eterna.

A Trindade é a chave da nossa salvação. O Pai enviou o Filho e o Espírito Santo para nos transformar e nos levar à vida eterna. Nossa missão é abraçar essa verdade, nos unindo a Cristo e vivendo como verdadeiros filhos de Deus.

O mistério da Santíssima Trindade não é um conceito abstrato, mas uma realidade salvífica que transforma nossas vidas. Deus Pai enviou o Filho para redimir a humanidade, e o Espírito Santo continua essa obra, nos unindo a Cristo. Nossa resposta a esse chamado exige conversão, gratidão e busca pela santidade, para que um dia possamos participar plenamente da alegria da Trindade no céu.

É um mistério de comunhão, amor e unidade que se manifesta na criação, na salvação e na santificação da humanidade. Desde os tempos apostólicos até os dias atuais, a Igreja proclama que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo, três pessoas distintas, mas um só Deus verdadeiro.

Professar a Trindade significa reconhecer a profundidade do amor divino e sua ação contínua na história da salvação. Como afirma Santo Agostinho: "Se compreendes, não é Deus." O mistério trinitário nos convida à adoração, à contemplação e à vivência da comunhão e do amor.

Diante desse Deus grandioso, só nos resta reverenciá-Lo e adorá-Lo. Santo Inácio de Loyola ensina, fundador da Companhia de Jesus, em seu Princípio e Fundamento, que o homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus Nosso Senhor e, assim, salvar sua alma.

Que o Deus Uno e Trino, em sua infinita misericórdia, nos abençoe e nos molde para, um dia, contemplarmos Sua glória na eternidade. Que toda a nossa vida seja um hino à Trindade: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, como era no princípio, agora e sempre. Amém! 


terça-feira, 5 de novembro de 2024

Jesus desceu à mansão dos mortos

 

 

Creio em Deus Pai, todo-poderoso, criador do Céu e da Terra e em Jesus Cristo, seu único Filho, Nosso Senhor; que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu a mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia; subiu aos céus, está sentado a Direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressurreição da carne, na Vida eterna. Amém!  

 

No segundo dia do Tríduo Pascal, Jesus, após se entregar, até a morte, ritualmente, na Ceia, e historicamente, na cruz, entrou na morte. É uma entrega só. No Sábado Santo e Solene Vigília Pascal, a Igreja nada celebra. É dia de silêncio e oração. O altar das igrejas permanece descoberto. 

Jesus, crucificado, morto e sepultado, conheceu a morte como todos os seres humanos. Com sua alma, unida à pessoa divina, foi à morada dos mortos, como Salvador, para proclamar o Evangelho e anunciar a Boa Nova aos espíritos ali aprisionados. 

No seio de Abraão, se encontravam os que estavam privados da visão de Deus. Todos os mortos, bons ou maus, esperavam o Redentor, que, no entanto, libertaria e abriria as portas do céu somente os justos que o haviam precedido. 

No Sábado Santo a Igreja permanece em silêncio junto ao túmulo, aguardando a ressurreição do Senhor.  Após a morte na cruz, o corpo de Jesus Cristo foi colocado no sepulcro e lá permaneceu, por apenas um dia. Sua alma humana separou-se do corpo e ficou no estado de mansão dos mortos, de "sono", "dormindo". 

No estado de morte, a alma separada do corpo, ainda não podia entrar na glória do céu, que estava fechado, após o pecado original, para a humanidade. Somente será aberto com a ressurreição de Nosso Salvador. Ele morreu na cruz e experimentou a morte. É um mistério. O autor da vida, engolido pela morte.  

A morte de Cristo foi real. Durante três dias, entre o momento em que “espirou” (Mc 15,37) e a ressurreição, o Salvador experimentou o “estado de morte”, por meio da separação da alma e do corpo. 

Na Carta aos Hebreus foi descrita a obra de libertação dos justos por este evento da descida à mansão dos mortos: “Como os filhos têm em comum a carne e o sangue, também Jesus participou da mesma condição, para destruir, com a sua morte, aquele que tinha o poder da morte, isto é, o diabo. Assim libertou os que, por medo da morte, estavam a vida toda sujeitos à escravidão” (2:14-15).

Na Primeira Carta de São Pedro lemos: “Pois também aos mortos foi anunciado o Evangelho, para que, mesmo julgados à maneira humana na carne, eles pudessem viver segundo Deus no Espírito” (4,6).

Pela doutrina católica, a “descida aos infernos” constitui a última fase da missão messiânica, pois a Palavra do Evangelho, assim como a graça justificadora de Jesus, alcançou a todos, inclusive as gerações que viveram antes do sacrifício de Cristo na Cruz, como Adão, Eva, Abel, Melquisedeque, Abraão, Isaac, Jacob, Moisés, Noé, David, Salomão, Isaías, Jeremias, Zacarias, os patriarcas e os profetas. 

O período da graça, perdido com o pecado original de Adão e Eva, somente foi reinaugurado com a Cruz de Cristo. Antes da Redenção, com a morte e ressurreição de Jesus, as portas do paraíso estavam fechadas, desde a expulsão deles. Rompida a amizade com o homem que, tentado pelo diabo, deixou morrer a confiança em seu Criador, abusou da liberdade e desobedeceu ao mandamento divino, Deus colocou dois Arcanjos diante das portas do céu para que ninguém pudesse voltar. 

As almas das pessoas justas que, no Antigo Testamento, tinham morrido, aguardavam por esta "inauguração do céu". No Fim dos Tempos, as almas dos justos serão também unidas aos seus corpos ressuscitados, na ressurreição final. Então as pessoas salvas e justificadas, em estado de graça, entrarão na glória de Deus, de corpo e alma, configurando plenamente ao Cristo ressuscitado.  

Ao morrerem, eles não poderiam estar diante do Pai porque, além de carregarem a mancha do pecado original, não tinham recebido a graça e o perdão dos pecados pessoais e, portanto, não estavam unidos a Deus, de forma sobrenatural.  

Todavia, estas pessoas boas não poderiam ser punidas com a pena dos sentidos (queimarem no fogo do inferno) porque viviam a justiça, ainda que de forma natural. Como não estavam perdoados de seus pecados, não podiam escapar da pena de dano (ausência de Deus), aplicada no círculo exterior do inferno.

Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus (doutrina formalizada no Concílio de Calcedônia, em 451, d.C.), tal como professado na profissão de fé de São Cirilo, ali desceu, já morto, para declarar a sua vitória sobre o demônio, para mostrar o seu poder e pegar, pelas mãos, aquelas pessoas boas e justas e levá-las para o céu. O Salvador ressuscitou todos eles. São Paulo, na sua Carta aos Filipenses 2:10-11, disse que ao nome de Jesus, todo o joelho se dobre no céu, na terra e abaixo da terra e toda língua proclame: Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai (.

Confira esta bela e antiga homilia para o Sábado Santo:

 

"O que está acontecendo hoje? Um grande silêncio e uma grande solidão reinam sobre a terra. Um grande silêncio, porque o Rei está dormindo; a terra estremeceu e ficou silenciosa, porque Deus feito homem adormeceu e acordou os que dormiam há séculos. Deus morreu na carne e despertou a mansão dos mortos.

 

Ele vai antes de tudo à procura de Adão, nosso primeiro pai, a ovelha perdida. Faz questão de visitar os que estão mergulhados nas trevas e na sombra da morte. Deus e seu Filho vão ao encontro de Adão e Eva libertos dos sofrimentos.

 

O Senhor foi onde eles estavam, levando em suas mãos a cruz vitoriosa. Quando Adão o viu exclamou para todos os demais: O meu Senhor, está no meio de nós! E Cristo tomando Adão pela mão, disse-lhe: Acorda, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos...

 

Eu sou o teu Deus, e por tua causa me tornei teu filho; por ti e por aqueles que nasceram de ti, agora aos que estavam na prisão da morte: ‘Saí!’; e aos que jaziam nas trevas: ‘Vinde para a luz!’; e aos entorpecidos: ‘Levantai-vos!’

 

Eu ordeno: Acorda, ó tu que dormes, porque não te criei para permaneceres na mansão dos mortos. Levanta-te dentre os mortos; eu sou a vida. Levanta-te, obra das minhas mãos; levanta-te, ó minha imagem, tu que foste criado à minha semelhança. Levanta-te, saiamos daqui; tu em mim e eu em ti, somos uma só e indivisível pessoa.

 

Por ti, eu, o Senhor, tomei tua condição de escravo. Por ti, eu, que habito no mais alto dos céus, desci à terra e fui até sepultado; por ti tornei-me como alguém sem apoio. Por ti, que deixaste o jardim do paraíso, num jardim fui crucificado.

 

Vê em meu rosto os escarros que por ti recebi, para restituir-te o sopro da vida. Vê as bofetadas que levei para restaurar tua beleza corrompida. Vê as marcas dos açoites que suportei para retirar de teus ombros o peso dos teus pecados. Vê minhas mãos fortemente pregadas à cruz, por causa de ti, pois outrora estendeste levianamente tuas mãos para a árvore do Paraíso. Adormeci na cruz, e por tua causa a lança penetrou no meu lado, assim como Eva surgiu do teu costado, quando adormecestes no Paraíso. Meu lado curou a dor do teu costado; meu sono vai arrancar-te do sono da morte. E minha lança deteve a que estava dirigida contra ti.

 

Levanta-te, vamo-nos daqui. O inimigo te expulsou do Paraíso; eu, porém, agora te coloco num trono celeste. O inimigo afastou de ti a árvore da vida; eu, porém, que sou a vida, estou agora junto de ti. Constituí anjos que, como servos, te guardassem, e ordeno que eles te cuidem como Deus, embora não o sejas.

 

Está preparado o trono dos querubins, prontos e a postos os mensageiros, construído o leito nupcial, preparado o banquete, as mansões e os tabernáculos eternos adornados, abertos os tesouros de todos os bens e o Reino dos céus preparado para ti desde toda a eternidade. Vem!"  

Entre a morte e a ressurreição, no sábado, possivelmente no dia 8 de abril do ano 30, Jesus desceu ao Limbo dos Patriarcas para libertar os justos, abrir o céu, dar-lhes a beatitude, a bem aventurança e confirmar o seu poder divino.  

No dia anterior à Ressurreição, Cristo foi à mansão dos mortos, livre e vitorioso, sem perder sua divindade, para cumprir o que estava escrito nas Escrituras: o Messias libertaria os cativos e abriria o caminho para a salvação ...

O Filho de Deus libertou as almas dos justos, que ali aguardavam a Redenção. Demonstrou a vitória sobre o pecado e a morte, completando, assim, a obra de salvação iniciada com sua crucificação e morte. Em outra derrota para o demônio, houve a manifestação do poder soberano de Cristo sobre o mundo espiritual, mostrando que Ele tem autoridade sobre o inferno e a morte. 

A descida à morada dos mortos preparou o caminho para a ressurreição de Jesus Cristo, que ocorreu no Domingo de Páscoa, inaugurando, assim, uma nova era de vida e esperança para todos os que creem Nele.